A maior decepção do ano: a pior temporada de série lançada em 2025 (até agora) Ju-han / Netflix

A maior decepção do ano: a pior temporada de série lançada em 2025 (até agora)

Há quatro anos, espectadores do mundo inteiro passaram a conhecer e a se encantar com uma face até então inédita do desespero e da cobiça, baseada numa série de competições desumanas cujo eixo move-se em torno de gente vulnerável, que topa tudo por dinheiro, como se assistia na televisão aberta do Brasil nos anos 1990, porém disposta a passar por mais que humilhação e ignomínia. “Round 6” não teria se transformado no fenômeno que é sem nosso insaciável apetite pelo mórbido, quase sempre mascarado pelo cínico pretexto da empatia, termo tão gasto para uma atitude tão brutalmente conspurcada pelo marketing. Nos seis capítulos dessa terceira temporada, o diretor-roteirista Hwang Dong-hyuk leva sua história destroncando eventos do primeiro ciclo, ora refazendo o que apresentara antes, ora ousando incluir novos arcos dramáticos, estratégia perigosa que pode tanto atrair novos fãs como melindrar os já fidelizados. Hwang corre o risco, dosando ação e drama ao longo de cerca de sete horas de cenas que reúnem algumas boas surpresas e muita, muita espuma.

Um resumo situa a audiência quanto aos lances decisivos da primeira fase. É quando o vencedor Seong Gi-hun recusa-se a embarcar no avião para os Estados Unidos e resolve investigar quem está por trás do tal Jogo da Lula. Gi-hun, o Jogador 456 procura o Vendedor, o sujeito que seleciona os possíveis competidores, e as ótimas atuações de Lee Jung-jae e Gong Yoo garantem a diversão de quem procura algo mais que frio na barriga. Se em 2021 “Round 6” tinha a essência de crítica social disfarçada de entretenimento, Hwang fez do enredo uma reflexão delirante sobre o capitalismo desumanizador que rodeia-nos a todos, numa espécie de thriller conspiratório, pensado para vencer sempre — embora transmita uma sensação de inconstância. O problema é que, como em todo produto da indústria cultural que se massifica, vai crescendo sem método a necessidade de agradar os fãs, e o resultado é o mais do mesmo que se vê agora. Seong Gi-hun ganha uma aura justiceira e parece um agente duplo, obcecado por desmantelar a organização por trás dos jogos. Em entrevistas, Lee Jung-jae conta que chegou a perder dentes, o que não deixa de ser uma boa anedota acerca da mística da violência que rege o programa. 

A estrutura narrativa da terceira temporada é mais dispersa, concentrando-se menos nos jogos e dispensando mais tempo aos bastidores do sistema. O front man In-ho, vivido por Lee Byung-hun, ganha espaço, mas fica parecendo que Hwang quis a todo custo remover um pouco do verniz de guerreiro implacável do personagem e dar-lhe uma cara mais humana, com dilemas internos e uma suposta culpa moral, o que, a essa altura dos acontecimentos, soa artificioso. O diretor insiste na cansativa subtrama da concorrente transgênero Hyun-ju, de Park Sung-hoon, mas compensa o equívoco ao também sublinhar o conflito de Geum-ja e Yong-sik, avó e neto interpretados por Kang Ae-sim e Yang Dong-geun, que passam a equipes rivais, uma incumbida de procurar e matar a outra numa releitura macabra do esconde-esconde, trazendo de volta parte da tensão original, com um suspense bem-executado. Quando os jogos finalmente começam, porém, é inevitável o sentimento de déjà-vu. Há novas dinâmicas, novos desafios mortais e novos participantes, mas a fórmula já não surpreende. Ao cabo de 22 episódios, o fôlego acabou, a brincadeira perdeu a graça e os poderosos deixam nietzschianamente claro que não levam desaforo para casa e ganham sempre. “Round 6” 4? Espero que não.


Série: Round 6 — Terceira temporada
Criação e direção: Hwang Dong-hyuk
Anos: 2021-2025
Gêneros: Thriller
Nota: 6/10