5 livros que intelectuais odeiam admitir que amam — mas leem às escondidas

5 livros que intelectuais odeiam admitir que amam — mas leem às escondidas

Nos círculos intelectuais, onde disputas por erudição são tão expressivas quanto o conhecimento real, admitir gostar de certos livros pode soar como heresia. Dizer que aprecia Proust, Joyce ou Dostoiévski é a senha que abre o portal das conversas inteligentes; confessar simpatia por best-sellers ou romances de aeroporto, por outro lado, pode provocar sorrisos amarelos ou olhares de reprovação. Entretanto, há livros que, embora tachados de comerciais, simples ou escapistas, enchem as estantes e povoam os corações até dos leitores mais sofisticados. Alguns deles são clássicos do entretenimento; outros, fenômenos editoriais. O que têm em comum? O prazer da leitura. E esse prazer, que deveria ser celebrado, é vezes reprimido por medo do julgamento dos outros.

Certa feita, o sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002) argumentou que gosto é uma construção social: o que apreciamos está diretamente ligado à posição que ocupamos e aos valores do nosso grupo. Nesse sentido, o gosto por certos livros não é apenas uma questão de prazer do indivíduo, mas de status. Assim, o intelectual que se define por seu refinamento tende a evitar publicamente obras que se relacionem ao entretenimento de massa. Há uma pressão implícita para que seu gosto reflita um suposto “nível superior” de compreensão estética ou literária. Harold Bloom (1930-2019), crítico literário conhecido por sua defesa do cânone ocidental, revelou certa admiração pela prosa de Stephen King, outro autor comumente rejeitado por críticos literários, mas amado por milhões ao redor do globo.

Mas essa repressão do gosto não anula o prazer. Muitos leem escondido, com a capa dobrada para dentro, ou dizem que só estão lendo “por curiosidade antropológica” ou “para entender o fenômeno cultural”. Outros mantêm seus exemplares em prateleiras secretas, longe do olhar dos visitantes. A escrita pode ser criticada por sua simplicidade, seus clichês ou suas construções previsíveis, mas há algo irresistível no ritmo vertiginoso e nas teorias conspiratórias que misturam arte, religião e história.

A literatura romântica é uma das mais desprezadas pelos círculos intelectuais — especialmente quando protagonizada e escrita por mulheres. Existe um preconceito de longa data que liga o romance amoroso à superficialidade e à fuga do mundo. Autoras como Jane Austen (1775-1817), Clarice Lispector (1920-1977) ou, por que não?, Elizabeth Gilbert passaram anos relegadas ao rótulo de “literatura feminina” até que tivessem, afinal, reconhecido seu valor artístico. Austen, Clarice e Gilbert constam da nossa lista, junto a outros dois autores homens, o que corrobora a urgência de seguir combatendo determinadas ideias e desmistificando falsos paradigmas, que só o que fazem é perpetuar a burrice do reducionismo.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.