Quanto mais se ganha, mais se tem a perder. Este parece um raciocínio elementar, mas as privações lucrativas do amor, mais que um brutal oximoro, são um manancial de constantes revelações para quem se permite beber dessa água, turva, às vezes salobra, mas sempre salvadora, terapêutica, curativa. Há maneiras e maneiras de se cantar o mais humano e o mais nobre dos sentimentos, aquele que encerra tudo quanto se possa querer da vida, o mesmo que torna o insignificante, valioso e faz com que lembremos do mais secreto de nós mesmos, tão oculto e abafado que demoramos a reconhecer como parte do que somos. Os conflitos entre uma família nobre, mas decadente, e uma executiva ambiciosa e determinada são o assunto de “Realeza” que, como sói acontecer nas produções indianas, amarra tudo com as cores e o brilho habituais. Em oito episódios, Neha Sharma lança mão de um casal de protagonistas jovens e bonitos — como também costuma se dar nesses enredos — a fim de segurar o público, estratégia que nem sempre funciona diante da natureza elíptica da trama.
O capitalismo é um sistema cheio de particularidades. Da mesma forma que oferece a chance de ascensão social a indivíduos alijados pela própria vida das mínimas condições de desenvolvimento, sem um trabalho digno ou instrução formal que os ajude a chegar lá, morando em choupanas de palafita sem água tratada, vendo o esgoto correr de porta em porta levando as moléstias que adoecem e matam seus filhos como há mais de quinhentos anos, o capitalismo, porque conduzido de maneira cruelmente equivocada, não manifesta por essas pessoas a menor compaixão, perpetuando um ciclo de miséria que não interessa a ninguém — ou que interessa a muita gente.
Algumas das barreiras que o capitalismo não consegue derrubar são a matéria-prima de que Sharma faz uso em “Realeza”, encarnadas em Aam Kumari Sophia Kanmani Shekhar, uma visionária mulher de negócios que pretende transformar um palácio em ruínas de Morpur, cidade fictícia do Rajastão, num resort de luxo. Parece que não pode haver nada no mundo que seja capaz de detê-la, mas, claro, surge-lhe no caminho Aviraaj Singh, filho de um marajá falido. Não é difícil supor onde isso vai dar, mas, justiça se lhes faça: Bhumi Pednekar e Ishaan Khatter dão a liga necessária a mais essa litania bollywoodiana. Por eles, “Realeza” pode não ser uma completa perda de tempo.
Série: Realeza
Criação: Neha Sharma
Ano: 2025
Gêneros: Drama/Comédia
Nota: 7/10