Há 100 anos, tentaram calar uma poeta; ela recusou o silêncio e desmascarou a hipocrisia moralista
Entre vitrines novas e vigilância doméstica, Gilka Machado fez do corpo pensamento e pagou com décadas de silêncio. No Rio reformado por Pereira Passos, publicou versos que afrontaram a patrulha moral e o biografismo. Atuou no Partido Republicano Feminino desde 1910, viu o voto chegar em 1932 e manteve a escrita enquanto criava filhos, enfrentava a viuvez e organizava o legado do marido. Chamaram-na “matrona imoral”; ela respondeu com ofício. Drummond a definiu como a primeira mulher nua da poesia brasileira: nudez da língua, não da pessoa, sem pedir licença.