Crônicas

Não chore por mim, Valentina

Não chore por mim, Valentina

Eram 11 dias do mês de setembro de 2013. Enquanto meu amor dormia, exausta de mim e do meu mau humor, no Hotel Losermanos, eu caminhava com Valentina, uma prostituta portenha que conheci quando passeava pelo famoso Cemitério da Recoleta em Buenos Aires, considerado por todos — exceto pelos mortos, é claro — um dos mais belos e portentosos cemitérios do planeta. A moça cumpria o ritual de visitar os túmulos de Evita Perón (um dos mais modestos do pedaço, aliás, considerando a predominante opulência arquitetônico-escultural das catacumbas), do soldado desconhecido, da prostituta desconhecida e da dignidade desconhecida. É isso: a vida é uma guerra diuturna, seus cães.

A gente morre todos os dias. Mas se esquece e levanta

A gente morre todos os dias. Mas se esquece e levanta

Se tem algo que desperta muita ira em nós é o descontrole sobre a hora da nossa morte. E sobre o momento da nossa concepção e nascimento. Sentimo-nos, paradoxalmente, cada vez mais empoderados, tendo como cúmplices as sucessivas invenções das novas tecnologias. O domínio sobre o universo, objetos coisas e pessoas. A era glass, a era touch e a era do controle (a última apontando a implacável vigilância da internet sobre nossa minuciosa intimidade) convivem na atualidade, aparentemente de mãos dadas.

21 frases impagáveis de Charles Bukowski

Mais do que um grande escritor, um filósofo na prática, um vagabundo, um gênio, um bêbado imundo, um poeta angelical, um homem amado e um homem odiado. Entre relacionamentos intensos de pouco sentimento, entre empregos enfadonhos e recusas frequentes, entre sentimentos antigos de ódio e parricídio, entre um gole e outro. Entre um gole e outro, Charles Bukowski transformava sua vida turbulenta em arte, suas tragédias em comédias e seus fracassos em sucessos.

Não há um lar tão pobre que não tenha televisão; já o livro…

Não há um lar tão pobre que não tenha televisão; já o livro…

A televisão foi disseminada a tal ponto que não há uma casa neste país que seja tão pobre que não tenha uma televisão. Já o livro é um objeto extremamente escasso. Até em casa de classe média os livros que existem são desviados para peças de decoração. Pode haver livro, mas não há efetivamente leitura. E, quando se lê, é autoajuda ou manual de instalação. Quando muito. O hábito da leitura lamentavelmente ainda não conseguiu inserir-se no cardápio dos valores da nação brasileira.

Você usa óculos? Eu às vezes uso Ritalina e Rivotril

Você usa óculos? Eu às vezes uso Ritalina e Rivotril

É um descolamento de si. Como uma experiência extra corpórea em que você se desprende do seu corpo e observa o mundo de uma distância estéril. Nem é distância na verdade, é de fora. As conversas não te interessam, as pessoas não te interessam e você sofre se obrigando a ter uma vida normal. Mesmo que dentro da sua cabeça exista uma sirene avisando que um tsunami está vindo, você teima e o volume da sirene vai crescendo até ficar ensurdecedor. E aí para.