Crônicas

‘Qualquer problema que você tiver comigo é seu’

‘Qualquer problema que você tiver comigo é seu’

Há momentos em que a vida parece estar mergulhada em inferno astral. É como se todos os pilares da existência — família, relacionamento, trabalho, amizades… — se unissem sadicamente para testar o fôlego do cidadão. De forma otimista, buscam-se justificativas transcendentais e pedagógicas, nomeando-se a fase negra de “teste divino”, “provação espiritual”, ou “alinhamento dos astros”. Não interessa a expressão, a verdade é que há vezes em que o dia a dia se torna um saco e parece que se está a um fio da autoimplosão.

Eu não sei viver de outro jeito, a não ser desse jeito

Eu não sei viver de outro jeito, a não ser desse jeito

Voilá, mundo cruel! Eu te amo. Eu te odeio. Essa bipolaridade é de matar, mas acontece que eu não sei viver de outro jeito, a não ser desse jeito. Não te sintas tão seguro assim. Não pretendo saltar de uma ponte. Aliás, desde que me tornei adulto, as pontes é que andam a saltar de mim. Tá uma febre. Os dilemas são tão intoleráveis que nem vergalhões e concreto sustentam.

O coração deveria ter a opção de excluir histórico

O coração deveria ter a opção de excluir histórico

É melhor deixar pra lá. Alguém vai resolver o problema. Se for para um dos dois tomar uma decisão, que seja o outro, que ele assuma a autoria e carregue o peso de escolher por nós. Enquanto isso, fico aqui esperando que ele decida o que será da minha vida: ele que ponha um fim na nossa história, que saia de casa, que mude de emprego, de cidade, de país. E me outorgue o deleite do meu papel de coitada, minúscula diante dele, incapacitada de tomar qualquer atitude. Porque não quero assumir nenhum risco. Inclusive o risco de estar viva.

Tu te tornas eternamente trouxa pela expectativa que cultivas

Tu te tornas eternamente trouxa pela expectativa que cultivas

Depois, a ficha cai junto com a cara no chão. A gente sente a pancada, bem forte na boca do estômago. É como um filme que paralisamos na cena de um nocaute. E mais tarde, ao apertarmos o play, a pancada vai certeira na alma. A vontade é de virar um cartoon, abrir um zíper nas costas e sair daquela pele, correndo. Em seguida, entrar num bar, levantar a mão para o garçom e pedir: — Outra vida, por favor!