Autor: Marcelo Mirisola

Cão come cão*

Cão come cão*

Eu tive inveja dos adultos, muita inveja, e muito medo. Não conseguia me comunicar com eles, e criei uma identidade rancorosa que foi meu escudo e minha desgraça, tinha inveja do charme dos adultos e da lubricidade deles. Então fui ficando mudo, dentuço e esquisito, minhas pernas cresceram em desproporção ao tronco, e junto vieram as olheiras. Uma cegonha com adejos de morcego, mais as bochechas inchadas. Era a alma travada que dava as caras. Foi nessa época que a inveja me envergou.

A República de Ratanabá

A República de Ratanabá

A lista de malabarismos, credos e volteios, ideologias, engajamentos & falsos engajamentos servidos à fraude é extensa (…). Chega a ser constrangedor elencar personagens e situações, de modo que é melhor poupar os leitores dos detalhes mais sórdidos e/ou exóticos, quer dizer, talvez eu não resista e fale apenas de um caso à guisa de ilustração.

Jamais compraria um carro usado por Saramago Wikimedia Commons

Jamais compraria um carro usado por Saramago

O prazer de desfrutar de um bom livro é o mesmo de desfrutar da companhia de um bom amigo, ler por obrigação é algo tão sem nexo e esdrúxulo como ser obrigado a cultivar uma amizade. Uma coisa, porém, é ser amigo da obra. Outra, completamente diferente, é ser amigo do autor. Ainda que o autor da obra seja seu amigo pessoal. A propósito, tenho um ótimo amigo que é escritor, mas não gosto dos livros que ele escreve, não descem.

Vade retro século 20

Vade retro século 20

Anteontem participei de uma “performance” no Largo da Batata. A garota defecava defronte à Igreja de Nossa Senhora do Monte Serrat, e comia o próprio cocô. Depois oferecia beijos à plateia. Aceitei. E a beijei. Tinha mau-hálito. Depois do beijo, me dirigi aos curiosos, e proclamei: “Tem mau-hálito”.

Coprofilia no século 21

Coprofilia no século 21

Digamos que o consumo e a veneração de um pote de merda duas vezes ao dia não só corrigiriam meu caráter como poderia salvar o planeta. A receita é bem simples: bastaria que tanto eu como a humanidade, criássemos o hábito de reciclar (comer) nossos respectivos produtos fecais diariamente, de preferência logo depois de o defecarmos, in natura. Ainda assim nossa fome não seria saciada.