Com um estilo característico que prescinde de diálogos excessivos, “Corrente do Mal”, segundo longa-metragem de David Robert Mitchell, lançado em 2014, mergulha profundamente em seus temas sem permitir que o espectador se aproxime excessivamente. O filme, que conta uma narrativa de fantasmas que não é diferente de outras do gênero, representa a coexistência pacífica de seres sobrenaturais e humanos.
O ponto de referência para entender “Corrente do Mal” é observar como seus jovens protagonistas lidam com os desafios cotidianos. As iniciações sexuais mal coordenadas e aparentemente sem sentido, dão lugar a uma explosão de desejos e medos, retratando a batalha existencial enfrentada por todos nós. O script de Mitchell explora a sexualidade, porém, enfatiza como a percepção de liberdade sexual influencia a maneira como os personagens se relacionam com o mundo.
A protagonista, Jay, interpretada por Maika Monroe, é forçada a enfrentar as consequências de suas escolhas quando sucumbe aos avanços de Hugh, personagem de Jake Weary. Numa cena angustiante, Hugh droga Jay e revela que ela foi infectada, não por uma doença sexualmente transmissível, mas por um fantasma que se propaga através do sexo. Aconselhada a transmitir a maldição a outra pessoa, Jay se encontra em constante perseguição por esta entidade sobrenatural, com a ameaça presente tanto em figuras conhecidas quanto desconhecidas.
“Corrente do Mal” é um retrato honesto da adolescência, marcada por erros e aprendizados. A relação platônica dos adolescentes com o sexo é trazida à tona, revelando as consequências avassaladoras da sexualidade precipitada. Jay e suas amigas, vivendo intensamente, lidam com as expectativas exageradas em relação ao sexo, o qual erroneamente acreditam ter o poder de causar uma revolução interna e influenciar positivamente a sociedade.
A narrativa de horror em “Corrente do Mal” se desenvolve a partir da ideia de que, se a vida é efêmera, o sexo seria uma maneira de confrontar essa transitoriedade. Mitchell examina o paradoxo da sexualidade versus amizade e a desmistificação de supostos vínculos especiais. A percepção do sexo muda ao longo do filme, deixando em destaque a busca incessante por prazer, refletindo uma armadilha de autossabotagem.
Os cenários escolhidos por Mitchell auxiliam na compreensão da ambivalência da onipresença do sexo e sua aparente necessidade, integrando personagens reais e imaginários. As cenas capturadas dentro de carros retratam um espaço infinito, inspirando o espectador a refletir sobre a configuração da existência. As sequências de terror apresentam inventividade e vigor, mas também geram uma sensação de angústia claustrofóbica. Se “Corrente do Mal” tivesse uma única mensagem, seria a de que o sexo, como qualquer outra escolha, requer reflexão e, portanto, maturidade. Em outras palavras, o sexo é um assunto para adultos.
Filme: A Corrente do Mal
Direção: David Robert Mitchell
Ano: 2014
Gêneros: Terror/Thriller
Nota: 9/10