Em 2026, o Globo de Ouro volta a chamar atenção para o lugar das séries na paisagem audiovisual internacional. A premiação, organizada pela associação de imprensa estrangeira em Hollywood, costuma antecipar tendências que depois se repetem ou são contrariadas em outras cerimônias. Quando o foco se desloca da tela grande para o formato seriado, fica mais claro como histórias contadas em episódios assumiram espaço antes reservado ao cinema de prestígio, com temporadas acompanhadas como se fossem grandes lançamentos anuais.
Nos últimos anos, essa movimentação se intensificou com a presença constante de séries produzidas por plataformas de streaming em categorias centrais. No caso da Netflix, indicações frequentes consolidaram a empresa como uma das principais forças do setor, misturando projetos autorais, apostas comerciais e parcerias com nomes já consagrados em cinema e televisão. A exposição global oferecida pelo serviço ajuda a explicar por que enredos ambientados em diferentes países conseguem repercutir de maneira simultânea em mercados distantes, mantendo conversas parecidas sobre temas atuais.
A partir desse contexto, a lista de séries ligadas à Netflix indicadas ao prêmio ilumina a temporada. Há espaço para formatos e pontos de vista ligados a temas que vão de disputas políticas a conflitos familiares e crimes reais.
Alex Bailey / NetflixDurante uma crise internacional iniciada por um ataque a um porta-aviões britânico no Golfo Pérsico, a experiente Kate Wyler é enviada a Londres para assumir a embaixada dos Estados Unidos em um momento de máxima exposição política. Acostumada a atuar em zonas de conflito longe dos holofotes, ela precisa aprender a negociar sob o escrutínio da imprensa, da Casa Branca e de aliados que mudam de posição conforme a conveniência. Ao mesmo tempo, tenta administrar um casamento em erosão com Hal, também diplomata, cujo ego e ambições interferem diretamente nas escolhas profissionais da esposa. Quando a investigação do atentado se cruza com disputas internas em Washington e culmina na morte do presidente, a protagonista se vê empurrada para o centro da sucessão de poder, acumulando responsabilidades que nunca desejou. A série acompanha esse equilíbrio precário entre dever institucional, lealdade conjugal e o custo íntimo de viver permanentemente em modo de crise.
Divulgação / NetflixUm garoto de 13 anos é preso acusado de assassinar uma colega de escola em uma cidade britânica de classe média, e a rotina da família desaba de um dia para o outro. Enquanto o pai tenta compreender se o filho seria capaz de tamanha violência, a mãe luta para manter alguma normalidade, ainda que em negação, e os vizinhos passam a tratar a casa como um ponto de curiosidade e repulsa. A psicóloga que atende o adolescente busca pistas em cada silêncio e em cada detalhe do comportamento, consciente de que qualquer avaliação será usada na Justiça. O detetive responsável pela investigação alterna empatia e pressão, ao mesmo tempo em que lida com o efeito do crime na comunidade escolar. A minissérie constrói a tensão menos em torno da pergunta “quem fez?”, e mais sobre “por que aconteceu?”, usando longos planos em tempo real para mostrar como culpa, medo e desejo de pertencimento moldam escolhas definitivas.
Divulgação / NetflixA nova safra de episódios desta antologia retoma a ideia central de investigar a relação entre tecnologia e comportamento humano, agora em um mundo em que inteligência artificial, realidade virtual e vigilância algorítmica já fazem parte do cotidiano. Cada capítulo apresenta personagens comuns confrontados com dispositivos e serviços aparentemente familiares: sistemas médicos que prolongam a consciência em nuvens digitais, simuladores capazes de recriar filmes clássicos com atores gerados por computador, plataformas que transformam memórias em produtos de consumo ou jogos que misturam nostalgia dos anos 1990 com crimes do futuro. À medida que essas soluções prometem eficiência, imortalidade ou satisfação instantânea, surgem dilemas éticos ligados a privacidade, identidade e responsabilidade. A temporada ainda retorna a universos já conhecidos, como a nave de “USS Callister”, agora usada para discutir o que acontece com clones digitais quando o criador deixa de existir. Em conjunto, os episódios formam um painel de ficções sombrias que dialogam diretamente com debates atuais sobre IA e entretenimento.
Divulgação / NetflixEm Nova York, o proprietário de um restaurante badalado construiu um império em torno de um endereço que funciona ao mesmo tempo como casa de shows, bar e ponto de encontro para celebridades e investidores. A fachada de sucesso começa a rachar quando o irmão mais velho, um ex-sócio tão carismático quanto descontrolado, volta à cidade fugindo de agiotas e velhos inimigos. Ao abrir a porta de casa e do negócio para essa presença incômoda, o protagonista vê reaparecer dívidas antigas, segredos de família e crimes que nunca foram totalmente esclarecidos. A partir desse reencontro, a minissérie acompanha noites de serviço em cozinha apertada, negociações com chefes de cozinha, visitas de críticos influentes e reuniões discretas com figuras do submundo financeiro local. A fronteira entre empreendedorismo e lavagem de dinheiro vai se tornando cada vez mais tênue, enquanto os dois irmãos precisam decidir até onde estão dispostos a ir para proteger o que construíram juntos — e o que restou de afeto entre eles.
Divulgação / NetflixNeste novo volume da antologia sobre crimes reais, a narrativa volta à zona rural de Wisconsin nos anos 1950 para acompanhar um fazendeiro solitário cuja imagem pública de homem tranquilo contrasta com o que esconde dentro de casa. A trama mostra o cotidiano desse sujeito em uma comunidade pequena, a relação opressiva com a mãe profundamente religiosa e a forma como o isolamento alimenta fantasias violentas. Aos poucos, desaparecimentos na região e rumores sobre túmulos violados passam a chamar a atenção da polícia local, que inicialmente resiste a acreditar que algo tão grotesco possa estar acontecendo ali. Quando a investigação finalmente chega à propriedade, o que se encontra no celeiro e nos cômodos internos ultrapassa qualquer expectativa, dando origem a um caso que marcaria para sempre o imaginário do terror americano. A temporada intercala os crimes, os interrogatórios e o impacto na imprensa, mostrando também como esse episódio real inspirou figuras ficcionais como Norman Bates e outros assassinos clássicos do cinema.
Stefania Rosini / NetflixUma apresentadora de podcast sobre sexo, agnóstica e francamente cética em relação a instituições religiosas, conhece um rabino carismático recém-separado e, contra qualquer previsão, os dois se apaixonam. A série acompanha o esforço para transformar esse encontro improvável em relação estável, em meio a famílias opinativas, expectativas comunitárias e diferenças profundas sobre fé, casamento e propósito de vida. Entre gravações do programa, cerimônias, jantares de Shabat e idas ao estúdio, o casal precisa lidar com a pressão de seguidores, ouvintes e líderes religiosos que opinam sobre cada decisão íntima. A segunda temporada, lançada em 2025, expande o foco para amigos e parentes, explorando como o relacionamento central reorganiza dinâmicas familiares e provoca crises de identidade em quem sempre se enxergou a partir de dogmas rígidos ou de um ceticismo absoluto. Sem abandonar o humor, a comédia romântica usa diálogos rápidos para discutir temas como culpa, perdão, pertencimento e a possibilidade de conciliar desejo individual com tradição.
Divulgação / NetflixUma escritora de sucesso, marcada pela morte trágica do filho pequeno, abandona a carreira e se refugia em uma casa isolada, tentando atravessar um luto que não cede. O cotidiano silencioso é interrompido quando o imóvel ao lado é comprado por um magnata do setor imobiliário, figura cercada de boatos sobre o desaparecimento misterioso da esposa. A partir dos primeiros encontros casuais, instala-se um jogo psicológico em que olhares, frases ambíguas e pequenas gentilezas podem ser tanto aproximação quanto ameaça. Sem saber se está diante de um criminoso ou projetando fantasmas pessoais, a protagonista passa a investigar por conta própria, vasculhando notícias antigas, observando hábitos do vizinho e se deixando atrair por uma curiosidade que beira a obsessão. A minissérie usa essa relação ambígua para discutir culpa, manipulação, violência de gênero e a linha tênue entre instinto de autopreservação e desejo de vingança, sempre deixando em aberto quem, afinal, merece o rótulo de predador.
Divulgação / NetflixExpulsa de um colégio tradicional após uma vingança elaborada contra colegas que atormentavam o irmão, uma adolescente de humor ácido e olhar sempre desconfiado é enviada pelos pais para um internato peculiar em Jericho, Vermont. A nova escola reúne jovens com habilidades sobrenaturais, divididos em grupos de “diferentes” que tentam conviver sob regras rígidas e vigilância constante. Lá, a protagonista precisa lidar com colegas expansivos demais para seu gosto, professores que escondem mais do que ensinam e uma sequência de mortes brutais na região, que parecem conectadas à própria família. Enquanto aprende a controlar visões psíquicas e descobre segredos sobre seus ancestrais, a estudante se envolve em uma investigação que mistura monstros, sociedades secretas e preconceitos seculares entre “normais” e “excluídos”. A produção equilibra humor sombrio, atmosfera gótica e trama policial, acompanhando também o amadurecimento afetivo de uma jovem que resiste a qualquer demonstração de afeto, mas precisa admitir que não pode enfrentar tudo sozinha.



