Crônicas

A mania de algumas pessoas acharem que o mundo gira ao redor de seus umbigos

A mania de algumas pessoas acharem que o mundo gira ao redor de seus umbigos

Todo mundo conhece uma pessoa assim: na roda de conversas, ela domina o assunto, conta mil histórias sobre si, é completamente desinteressada do que os outros têm a dizer e cria situações para arrancar elogios a fórceps. Se você quiser falar alguma coisa, querido, aproveite enquanto ela enche o pulmão de ar, porque é tudo o que lhe resta. Conversar com egocêntrico parece uma corrida de 100 metros rasos: termina-se cansado, como se a mais simples troca de informações fosse uma competição de gogó por quem fala mais, mais alto e sobre a própria vida.

Somos as palavras que trocamos, os erros que cometemos e os impulsos que cedemos

Somos as palavras que trocamos, os erros que cometemos e os impulsos que cedemos

Somos o que restou do que um dia fomos. Somos o pó de uma infância feliz e a nuvem fazendo pairar incertezas sobre uma velhice digna. Somos o mundo de alguém e o nada para o mundo inteiro. Somos a promessa de evolução, assim, sem pressa, caminhando numa procissão sem rumo, com a fé de que lá na frente seremos um tantinho melhores. Nunca estivemos tão perdidos nessa romaria chamada Vida. Procuramos caminhos e saídas através dos pés dos outros, escutando vozes paralelas à nossa, seguindo andarilhos igualmente perdidos. Nos preocupamos em saber para onde ir, quando nem sabemos quem realmente somos.

Quando quiser ser ouvido não grite, silencie

Quando quiser ser ouvido não grite, silencie

O silêncio é uma lacuna passível de ser mal interpretada. O mais instigante é não saber o que ele significa exatamente — se é indiferença, cansaço, dor, medo ou se é alguém tentando nos esquecer. O silêncio que perturba é aquele que mais coisas diz. Há silêncios que respondem aos tolos: calam os opositores, desbancam os argumentos dos conflituosos insistentes. Há silêncios feitos para a alma respirar: permitem que o tempo traga respostas contundentes. Há silêncios que são covardia: vêm dos que não se resolvem, dos escorregadios, dos fugidios, dos que não se encaram de frente.

Palavras não dizem muito. Atitudes dizem mais

Palavras não dizem muito. Atitudes dizem mais

Não é sempre, mas, de vez em quando, a voz do povo acerta o gol em cheio. Diz um provérbio chinês “há três coisas que não voltam mais: a flecha lançada, a palavra dita e a oportunidade perdida”. Aqui no Brasil, diz-se que “quem fala demais dá bom dia a cavalo”. Do Oriente ao Ocidente, a sábia voz dos filósofos populares já compreendeu que a verborragia costuma trazer pouco resultado.

Como sobreviver a um pé na bunda

Como sobreviver a um pé na bunda

J. apareceu assim, como imagens em sonhos, um pouco fora de foco. Desconfiei dos meus olhos. Desconfiei do vazio do meu coração. J. estava lá. Em minha frente seu sorriso me perturbava. Provocava-me a sua beleza ainda não descoberta. Inflamavam-me sentimentos de dúvidas, incertezas e encantos a serem descobertos. Logo depois da primeira mirada, procurei-a no meio da multidão. Não era capaz de reconhecer novamente seus olhos, a memória traía meus sentimentos. E a memória nunca me traíra antes. Seria ela especial? Fascinante? Fascinada? E algumas horas se passaram até reencontrá-la. Primeiro encanto. Mas ainda continuaria em dúvida.