Nunca há Oscar que baste para satisfação geral, claro, nem nunca haverá, e é por isso que estamos aqui! A lista da Bula tem sete filmes que os velhinhos da Academia, por uma ou outra razão, desprezaram, mas que não passaram em branco para nós, todos na Netflix. Lance-se ao mar da procela, encontre essas joias raras e fique muito mais rico.
Há de chegar o dia em que ninguém mais vai ter de se preocupar se conectou ou não o telefone na tomada antes de ir dormir a fim de não perder tempo na manhã seguinte com essas banalidades: nossos cérebros bastarão. Literalmente num piscar de olhos, vamos preparar a comida, saber se ela já está pronta, enviar uma mensagem ao chefe, reservar lugares no teatro. A realidade e o sonho se fundem em “Black Mirror” e nestes dez filmes da lista da Bula, todos na Netflix.
Há diversas razões que nos fazem desistir de um filme antes que se decrete o já finado “the end”, até porque muitas histórias restam inconclusas — pelo menos para o que se esperaria de um final como a maioria o concebe. Tem gente que está sempre tão em dívida com o relógio que não é sequer capaz de assistir a um filme até o seu desfecho, mas não é disso que se trata. O incômodo, a péssima sensação de se estar com o coração a saltar pela boca, a afobação, o medo, são motivos nada racionais para se abandonar um enredo à própria sorte.
Em maio de 1956, João Guimarães Rosa traz à luz “Grande Sertão: Veredas”, épico célebre pelo texto todo pontuado por uma versão muito particular da língua portuguesa, em que a fala do caboclo do interior do Brasil torna-se um dos personagens. Ao abordar a vida dos jagunços sob o ponto de vista metafísico-teológico, Rosa dá à humanidade conhecer a magnitude de seu gênio, perdido nas brumas do tempo do país sem memória que tanto amava.
Fantasia e realidade certamente são irmãs siamesas. Embora se alimentem de coisas diferentes, nasceram juntas, coladas, imiscuem-se nos mais diversos aspectos e uma não vive sem a outra, isto é, se uma morre, a outra há de fenecer logo. O realismo mágico, corrente literária celebrizada na América Latina a partir do início do século 20 com o gênio de Gabriel García Márquez, se espraiou também para o cinema e deixou de legado obras fantásticas, com o perdão do trocadilho.