Autor: Enio Vieira

O Brasil da série Cangaço Novo Divulgação / Amazon Studios

O Brasil da série Cangaço Novo

As cidades interioranas estão na pauta do momento, servindo de espaço ficcional para filmes, romances e séries de streaming. Parece haver, na verdade, um esgotamento da metrópole moderna como assunto e, ao mesmo tempo, a redescoberta do universo rural. Os olhos se voltam para um cenário que carrega simultaneamente os traços urbanos e os rurais: motocicletas, picapes SUV, telefones celulares, pequenas fazendas, caatinga, em meio às relações sociais bem brasileiras e tenebrosas. 

Deus e o diabo no ‘Faroeste caboclo’

Deus e o diabo no ‘Faroeste caboclo’

O sonho do Brasil moderno foi a passagem da vida no meio rural para o espaço urbano. Como se imaginou a partir dos anos 1930, o deslocamento deveria trazer o trabalho decente nas indústrias, os direitos, as melhorias de saúde e educação, viver nas cidades. Ficaria para trás o universo do campo regido por atraso, laços de religião e exploração dos miseráveis, sobretudo aqueles que nasciam e moravam na região Nordeste. Essa narrativa da migração alimentou uma série de livros, filmes e músicas populares, desenhando um imaginário do país por um longo período.

O Brasil da série ‘Os Outros’ Estevam Avellar / Globo

O Brasil da série ‘Os Outros’

De tempos em tempos, o lado estranho do país dá as caras nas telas de cinema e da televisão. Na era do streaming, essa aparição do sombrio ocorre também nos telefones celulares. Nada de encontro de classes sociais, samba no morro, festas de famílias ou o “equilíbrio dos antagonismos” de senhores e escravos, patrões e empregados. A mais recente imagem do horror brasileiro é a série “Os Outros”, de Lucas Paraizo e exibida pela Globoplay. A história teve como ponto de partida uma ideia da atriz e escritora Fernanda Torres, dona de um olhar agudo para as esquisitices nacionais.

O Brasil da novela ‘Vai na Fé’

O Brasil da novela ‘Vai na Fé’

Obras menores, sem ambições de grande arte, são melhores para identificar questões estruturais das narrativas de ficção. Tudo fica mais exposto e claro. Por sua vez, a literatura complexa esconde do leitor os pontos fundamentais. É preciso escavar, ter o olhar atento, para desvendar os sentidos relevantes nos romances de um Dostoiévski ou de um Machado de Assis. O mesmo raciocínio, que vem de Antonio Candido, vale para a interpretação de outras manifestações, como o cinema.

Cormac McCarthy e seu interesse sem fim pela ciência

Cormac McCarthy e seu interesse sem fim pela ciência

Cormac conheceu nos anos 1980 o físico Murray Gell-Mann (ganhador do Prêmio Nobel de 1969), e este não teve dúvida de quem chamaria para compor um novo instituto avançado de pesquisa científico. Eles perceberam de imediato que tinham os mesmos interesses pelo conhecimento humano, sobretudo algo chamado sistemas complexos. Foi desse encontro que nasceu o SFI, onde o autor de “Meridiano de sangue” se tornou uma das figuras centrais e poderia se esconder do mundo das celebridades.