Autor: Enio Vieira

Corpos que desaparecem

Corpos que desaparecem

O mês de junho de 2022 está marcado pelo retorno de um fantasma tipicamente latino-americano. Nas figuras de um indigenista brasileiro e de um jornalista inglês, ressurgem os “corpos desaparecidos” — desta vez, no fundo de uma mata escura. Faz um tempo que ocultar cadáveres virou especialidade de chilenos, argentinos, uruguaios e brasileiros. Não se trata de um desvio histórico, mas sim de tecnologia ou forma de gestão social para garantir uma certa ideia de ordem nas coisas.  

A poesia para tempos difíceis

A poesia para tempos difíceis

Ficou conhecida a provocação de Theodor Adorno sobre o desafio de fazer poemas depois dos campos de concentração. A indagação apareceu no pós-Segunda Guerra Mundial. Não haveria uma escrita capaz de apreender o sofrimento causado por cidadãos europeus, no coração de que se imaginava ser a civilização exemplar para o mundo todo. Quem produziu o alto pensamento ao longo da História, realizou uma “exibição de atrocidades”, conforme disse bem um romancista inglês.

This Is Us: a exigência de pensar o tempo que vivemos Ron Batzdorff / NBC

This Is Us: a exigência de pensar o tempo que vivemos

Desde a Grécia antiga, o drama de uma família alimenta as melhores histórias de ficção. O mundo pode mudar, porém sempre haverá o escritor, o dramaturgo ou o diretor de cinema para explorar as relações de pais, filhos e afins. O escritor russo Liev Tolstói abriu o romance “Ana Karenina” com a célebre sentença: “Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira”. Laços familiares são a matéria para captar o lado mais profundo de indivíduos e grupos sociais.

Atração da literatura pelas quatro estações

Atração da literatura pelas quatro estações

Outono, inverno, primavera e verão são mais do que períodos climáticos ao longo de 12 meses. As quatro estações transformaram-se em mitos para explicar sentimentos e estados de espírito do mundo moderno em mutação e de difícil compreensão. Há uma recente onda de escritores contemporâneos seduzidos pelos quartetos que organizam séries de romances e de obras híbridas (memórias e ficção): o norueguês Karl Ove Knausgard, o cubano Leonardo Padura e a escocesa Ali Smith.

O retorno do romance “Em Liberdade”, de Silviano Santiago Foto: Companhia das Letras

O retorno do romance “Em Liberdade”, de Silviano Santiago

Em tempos fora dos eixos, vem a calhar a nova edição do romance “Em Liberdade” (1981), de Silviano Santiago. Quando foi lançado, o livro causou um assombro. O autor já era um dos mais renomados críticos literários do Brasil e um professor universitário com trânsito internacional. E o que era aquela obra? Nada mais, nada menos, do que um diário fictício como se o narrador fosse o escritor Graciliano Ramos, contando o que se passou num período curto de sua vida após sair da prisão.