Crônicas

Da arte de não querer ouvir o que já sabemos

Da arte de não querer ouvir o que já sabemos

Primeiro aconteceu no congestionamento de uma cidade grande, com aquele sujeito pequeno que decidiu fazer uma faxina no interior de seu carro enquanto o trânsito não andava. Indiferente como os ponteiros de um relógio que atropelam a vida em total desaviso, juntou o entulho que ali havia, restos de comida, maços vazios de cigarro, latas de cerveja amassadas, e atirou tudo à rua pela janela, sob meia dúzia de olhares apáticos vindos de um ou outro veículo entre as centenas que ali jaziam por todos os lados.

Mais de mil palhaços no salão

Mais de mil palhaços no salão

Resolvi escrever e publicar esta crônica após o carnaval, pois eu tinha certeza que quase ninguém a leria, multidão ocupada em pescar traíra nas lagoas da vida; em queimar contrafilé na laje; em cantar antigas marchinhas carnavalescas politicamente incorretas (como aquela que põe em xeque a opção sexual do cabeludo Zezé, e outra que debocha de um vovô cuja pipa já não sobe mais); em travestir-se; em pesar a mão na maquiagem; em espremer-se atrás de um trio elétrico lotado de mulheres gostosas seminuas e um punhado de músicos exauridos que tocam sem parar que nem playback.

Minha entrevista com Elton John

Assim que adentrei o camarim de Elton John senti o baque dos 19 graus centígrados na cacunda, uma exigência do cantor para tocar em Goiânia, capital plantada no meio do cerrado, na quentura do centro-oeste brasileiro. Elton pareceu-me gordinho, usava um roupão de cor grená e tinha os pés massageados por um serviçal efeminado adornado com mais anéis e piercings do que um varal de roupas no jardim, o qual utilizava um cosmético local feito à base de pequi, produto genuinamente goiano, que deixa a pele hidratada, macia e, claro, com aquele aroma de pequi que o Elton simplesmente achou o máximo.

Ponto de encontro dos corações desencontrados

Ponto de encontro dos corações desencontrados

Despertos que vagam no seio da noite, quatro ou cinco ou seis bilhões ou mais, é tempo de estarmos juntos. Notívagos, estressados que não adormecem, sensíveis que despertam ao menor barulho no interior de suas cabeças, almas boas oprimidas pela marcha barulhenta do ódio gratuito e diário, sob as botas pesadas da inveja e o calcanhar rachado da burrice, já passa da hora de nos unirmos.