Autor: Graça Taguti

O silêncio também é resposta

O silêncio também é resposta

O silêncio diz muito mais do que se costuma ouvir de bocas aflitas, que jorram aos borbotões palavras atrapalhadas. Discursos tolos, sem aroma, nem sumo. Por vicio ou pretensa natureza, estamos acostumados a nos relacionar com a boca. Dela emanam sons filosóficos, conexos ou desconexos. Em sua maioria vazios como bolinhas de sabão. Falas de acompanhar a gula de bolinhos de bacalhau, chopes gelados em série, alargando barrigas carentes e solitárias companhias.

Depois da tempestade vem a bonança

Depois da tempestade vem a bonança

Se pegarmos carona na geografia iremos relembrar dos países mais propensos a serem atingidos por furacões, dentre as habituais intempéries. Os Estados Unidos, Canadá, a Austrália e o Japão colocam-se no topo da fila. Agora imagine que, por hipótese, você e eu habitemos a América do Sul. Para nós soa estranho, longínquo, ficcional até aventarmos uma tragédia dessas. Furacões, tornados, ciclones. Todos sinônimos, nos dicionários dos sustos.

O que você viveu ninguém rouba

O que você viveu ninguém rouba

O que você viveu ninguém rouba. Seus amores secretos, tempestades e estiagens, sonhos alagados de ideais, as vezes tão pueris e ingênuos. Seu pendor artístico, os gestos incompletos, sorrisos entregues às luzes do anoitecer, pálpebras que piscam com suavidade, mistérios da alvorada. Todas estas riquezas lhe pertencem. Esta é a sua abastada herança, que se manterá pulsante, enquanto você, com suas vestes de carne fresca ou amadurecida, deslizar entre a terra dos homens.

Ninguém consegue viver de janelas fechadas

Ninguém consegue viver de janelas fechadas

Imagine abrir sua janela ao acordar e, do mesmo modo que as lagartas magicamente se borboleteiam pelas paisagens da vida, encontrar uma fruta que se oferece a você. Clama por seu gesto de sorvê-la inteira. Entregando assim sua gratidão a um dos tantos presentes que a natureza diariamente lhe dá, sem exigir nada em troca. Saber receber é uma arte. Abrir os braços, o sorriso, o corpo e o coração e dispor-se aceitar quem estende o afeto a você. Receber exige coragem. Integridade. Desejo. Iniciativa. Transparências do querer genuíno.

O coração anda molhado. Mas a boca está seca

O coração anda molhado. Mas a boca está seca

Muitos de nós vivem com o peito mais encharcado que roupa esquecida na máquina de lavar, com a torneira aberta. Mais inflado que chester do almoço de domigo.Tem afeto chorando lá dentro, declaração de amor enxovalhada. Raiva presa com rolha na garganta. Desejos desnutridos. Saudade e lembranças mergulhadas em um balde de água sanitária. Tudo para esquecer, eliminar manchas de experiências marcantes e sensações da história pessoal.