Por mais de cinco décadas, a “Sessão da Tarde” foi muito mais que uma faixa de programação da TV Globo: foi um ritual coletivo, um convite diário à imaginação e uma das maiores usinas de memória afetiva do Brasil. Era ali, entre almoços atrasados e tardes de sol vistas da janela, que milhões de brasileiros descobriram o primeiro amor, a primeira aventura e, muitas vezes, a primeira lágrima provocada por um filme. Não era apenas sobre cinema — era sobre pertencimento, repetição reconfortante e a mágica de se emocionar mil vezes com a mesma história.
Entre centenas de títulos exibidos ao longo dos anos, alguns filmes se tornaram onipresentes — verdadeiros clássicos da tarde, reprisados tantas vezes que suas falas viraram provérbios e suas trilhas sonoras ainda ecoam em nossas lembranças. Eles atravessaram gerações com a leveza da familiaridade e a força de pequenos mitos modernos: romances impossíveis, amizades improváveis, paisagens tropicais, mal-entendidos divertidos e julgamentos celestiais.
O que une essas histórias não é apenas o sucesso de bilheteria ou o prestígio crítico, mas algo mais raro e precioso: a capacidade de tocar o público de forma duradoura. Cada filme desta lista carrega, à sua maneira, uma fórmula de encantamento. E embora vistos em telas pequenas e horários incertos, esses títulos se agigantaram ao habitar o cotidiano de milhões de lares — repetidos não por falta de opção, mas porque o afeto também se constrói pela repetição.
A seguir, a Revista Bula apresenta os 10 filmes mais reprisados da história da “Sessão da Tarde”, acompanhados de sinopses afetivas e contextualizadas. Prepare-se para reencontrar velhos conhecidos, reviver emoções adormecidas e, quem sabe, descobrir por que essas obras resistem ao tempo como poucas. Eles não passam apenas na TV — passam dentro da gente, toda vez que lembramos de como era bom parar o mundo por duas horas e apenas assistir.
Divulgação / Paramount PicturesUm assassinato brutal separa dois apaixonados, mas o vínculo entre eles resiste à morte. Ele permanece como espírito, preso entre mundos, tentando proteger a mulher que ama. Descobre que o crime foi planejado por alguém próximo, e agora precisa impedir um novo perigo. Sem conseguir ser visto ou ouvido, busca ajuda numa médium cômica e carismática. Juntos, formam uma aliança improvável para vencer as barreiras entre vida e morte. O roteiro equilibra suspense, romance e espiritualidade com uma sensibilidade única. A trilha sonora virou ícone e ajudou a eternizar cenas memoráveis. Mais que uma história de fantasmas, é um tributo ao amor que transcende o tempo. Foi um fenômeno mundial e emocionou públicos de todas as idades. É uma das narrativas românticas mais lembradas do cinema.
Divulgação / Columbia PicturesApós um naufrágio, duas crianças crescem sozinhas em uma ilha paradisíaca. Sem contato com o mundo exterior, aprendem a sobreviver por instinto e afeto. O tempo passa, e a inocência infantil dá lugar ao desejo e à descoberta do amor. Sem regras sociais, constroem um universo próprio, guiado apenas pela natureza. O cenário exuberante contrasta com o drama silencioso da solidão. A fotografia destaca a pureza do ambiente e dos sentimentos. As emoções emergem sem filtros, cruas como a própria existência. Não há vilões nem heróis — só o processo de se tornar humano. É um conto de formação onde o afeto nasce antes da linguagem. Por isso, marcou gerações como símbolo da adolescência romântica.
Divulgação / Paramount PicturesUm adolescente carismático decide que não vai à escola — e vive o dia mais épico da sua vida. Com a namorada e o melhor amigo, embarca num passeio por Chicago como se o mundo fosse deles. Enquanto fogem do diretor da escola e da irmã desconfiada, descobrem o valor da amizade. A leveza do roteiro esconde uma sabedoria sobre juventude, tempo e liberdade. A direção combina humor irreverente com cenas de impacto emocional sutil. O protagonista virou ícone da cultura pop por sua ousadia e carisma. O filme celebra a arte de viver intensamente o presente, sem culpa. Cada cena é uma lembrança de que o extraordinário pode estar no cotidiano. Foi um sucesso nos anos 80 e continua atual em espírito. É uma carta de amor à adolescência e ao direito de ser leve.
Divulgação / Paramount PicturesUm herdeiro africano viaja aos Estados Unidos em busca de amor verdadeiro — sem títulos ou riquezas. Disfarçado de homem comum, mergulha na vida simples e nos costumes nova-iorquinos. A comédia surge do contraste entre culturas e da sinceridade do protagonista. Ele encontra uma mulher forte, independente, e se apaixona por quem ela é. A trama subverte estereótipos e satiriza tanto o luxo quanto a ignorância. O elenco carismático e o humor afiado garantem o ritmo envolvente. Mesmo com toda a riqueza, o maior tesouro é ser aceito por quem se é de fato. É uma história sobre identidade, amor e escolhas reais. Um clássico que combina crítica social com leveza irresistível. Segue sendo um dos papéis mais lembrados de Eddie Murphy.
Divulgação / Columbia PicturesApós novo naufrágio, dois jovens crescem juntos em uma ilha deserta e formam um laço profundo. Eles não têm referências culturais nem regras externas — apenas a natureza e o outro. Com o passar dos anos, descobrem o corpo, o afeto e o instinto. O romance surge não por imposição, mas como desdobramento da convivência. O isolamento os protege da violência do mundo, mas também os limita. A fotografia reforça o ideal paradisíaco, quase mítico, da infância eterna. É um conto sobre liberdade e fragilidade, entre a beleza e o risco. A pureza dos sentimentos contrasta com a dureza da sobrevivência. Mais do que continuação, é uma variação sobre o mesmo mito. O espectador é convidado a redescobrir o amor em estado bruto.
Divulgação / Art FilmsUma jovem sonhadora deixa o interior rumo à cidade grande com o sonho de ser cantora. Logo enfrenta dificuldades, preconceito e desilusões, mas também encontra novos amigos. O amor floresce de forma leve e ingênua, como num conto de fadas moderno. Com músicas marcantes e coreografias vibrantes, a narrativa equilibra fantasia e realidade. Há momentos de humor infantil, ternura adolescente e mensagens sobre perseverança. O roteiro aposta em valores como amizade, otimismo e confiança nos próprios sonhos. A protagonista inspira pelo carisma, mesmo diante das frustrações do mundo adulto. Foi um marco na cultura pop brasileira dos anos 90, especialmente entre os jovens. A direção transforma o musical em uma celebração da esperança. É uma história para quem ainda acredita que o impossível pode acontecer.
Divulgação / Twentieth Century FoxUma família rural do sul dos Estados Unidos enriquece da noite para o dia e vai parar em Beverly Hills. Apesar da fortuna repentina, mantém costumes simples e sotaques caipiras sem disfarces. O choque cultural gera situações hilárias e embaraçosas em meio à elite sofisticada. O humor surge da autenticidade desajeitada em contraste com a pretensão urbana. A direção adapta a antiga série de TV para um novo público com ritmo acelerado. A crítica ao luxo vazio é feita com leveza, sem perder o tom de comédia pastelão. Mesmo cercados por esnobes, os protagonistas não renegam suas origens. A mensagem central é que caráter vale mais que etiqueta. É uma fábula moderna sobre identidade, pertencimento e integridade. Ideal para rir sem culpa — e refletir entre as gargalhadas.
Divulgação / Gaumont Columbia TriStar FilmsUma adolescente frustrada deseja ser adulta e acorda no corpo de uma mulher bem-sucedida. À primeira vista, tudo parece perfeito: fama, beleza, independência. Mas a ausência de laços verdadeiros logo revela o vazio por trás da aparência. Em meio à confusão, tenta recuperar sua essência e reencontrar antigas amizades. O contraste entre juventude e maturidade é tratado com ternura e humor. A direção constrói um conto de fadas moderno com sensibilidade e leveza. A protagonista brilha com ingenuidade e força emocional. O filme nos lembra que crescer sem perder a alma é um ato de coragem. É uma história sobre escolhas, arrependimentos e recomeços. E sobre como nunca é tarde para voltar a ser quem você era.
RJ Capak / WireImageUma funcionária de hotel é confundida com uma hóspede rica e acaba se envolvendo com um político. O romance nasce de um mal-entendido, mas cresce em sinceridade e desejo. Ela vive entre dois mundos: o que sonha alcançar e o que precisa esconder. A tensão entre identidade e aparência conduz o enredo com doçura. A narrativa revela o peso das expectativas sociais sobre os relacionamentos. A direção transforma a clássica fábula da Cinderela em drama urbano contemporâneo. O figurino, os cenários e a trilha sonora colaboram para criar uma atmosfera encantadora. É uma história sobre merecimento, escolha e autenticidade. Mesmo previsível, emociona pela simplicidade com que trata o amor. Prova que a magia pode estar até nos corredores de um hotel.
Divulgação / H20 FilmsDois nordestinos pobres atravessam o sertão enganando, fugindo, rindo e filosofando. Com criatividade e malandragem, enfrentam coronéis, cangaceiros e até o próprio diabo. A narrativa mistura humor popular com teologia, cordel e crítica social. O céu e o inferno se cruzam em um julgamento final, conduzido com poesia e irreverência. As personagens são tipos brasileiros arquetípicos — profundos, mesmo quando caricatos. A direção adapta Ariano Suassuna com ritmo dinâmico, diálogos afiados e teatralidade. Cada cena é uma fábula sobre justiça, fé e sobrevivência. É, ao mesmo tempo, risada e reflexão — faroeste, opereta e sermão. A compaixão vence a rigidez, e a humanidade prevalece sobre o dogma. Um dos maiores orgulhos do cinema nacional, eterno como a própria sabedoria popular.


