Será que você é medíocre?

Será que você é medíocre?

Para mim, o uso do significado de medíocre que, em sua origem, significa mediano, é um tanto questionável. Na vida das pessoas, a mediocridade pode ser uma aventura, pois é o que relatam — para cada pessoa um pequeno dilema pode ser monstruoso aos olhos de quem o vive. Parece ser por isso que ninguém se aventura a compartilhar o prazer da imaginação de outro. Tenho certeza que daqui para frente, nada é novo no dito.

Todos dizem já ter muito com que se ocupar e gastam demasiadamente para “ser”. E hoje, sabemos que gastamos tempo nas redes sociais, um tipo de entretenimento geral. É o que sempre ouço: “Não tenho tempo para ler e não tenho dinheiro para comprar livros”. O prazer fica restrito a unicamente estimular algumas regiões do cérebro com comida, entorpecentes, pequenos chistes nas redes sociais e sexo — ou não se justificaria a enorme preocupação das meninas e meninos com o físico e suas roupas e a TV não seria bombardeada por paniquetes e afins que, com razão, aumentam as audiências de programas televisivos e filmes. Natural, quando a cultura é dos sentidos externos. Indispensável, sem dúvida, mas de fato pouco se sabe do estímulo libertador de um livro bem escrito ou do efeito relaxante de um poema bem interpretado. Uma mudança cultural com certeza não se dará desprezando o que é instituído culturalmente, disso tenho tido certeza. Nunca me arrisco a menosprezar o mundo interno de um outro; isso é uma heresia à natureza das relações humanas. A consequência é crucifixo na certa, nesse processo. Cada um sabe o quanto é difícil lidar com os próprios problemas e a arte da leitura e da escrita é apenas um caminho. Assim como também a arte do ato de relacionar-se. O mais difícil, do meu ponto de vista.

Portanto, não seria mesmo constrangedor dizer a alguém que seu texto precisa de aprimoramento, mas sim a interpretação de que meu julgamento considera-o medíocre. O que não seria verdade em muitos casos, como no de uma talentosa escritora cujo texto comentei uma vez. Ela une seus trechos de textos a imagens e capta com sutileza algo que era comum e não havia sido expresso até então (que eu tenha visto). Ímpar. Provavelmente ainda não tem muita leitura. Os caminhos podem mesmo ser tortuosos para um bom trabalho. E olha que vejo, a todo o momento, várias ideias que se repetem. Tal como um perfume, não causam mais efeito e essa comparação faço ciente de estar usando o ordinário.

A verdade é que as pessoas compartilham, porque precisam se expressar, ainda que seja senso comum. Estão acostumados ao pronto e ao fácil e porque o domínio da escrita e da leitura exige um pouco de dedicação considerada desnecessária, já que todos falam e escrevem sem precisar pensar muito nisso. Isso basta a todos, infelizmente, e por saberem que arte exige, às vezes, especialização, não se sentem à vontade em escrever por si. Não estão autorizados pela sociedade. Não convencem por não serem cânones. É essa fagulha de coragem que não quero ver morrer na menina que fala por palavras e imagens de aquarela. Acusar de medíocre, buscando categorizar é que me parece simplório ou mediano, pois em nada contribui para um ponto de vista amplo e denuncia o desconhecimento de como tudo funciona.

Espero que a trajetória de muitos leitores ávidos — como o Marcelo Franco, colunista desta revista e muitos outros colegas — se reproduza em cabecinhas novas, mas, infelizmente, poucos são os capazes de fazer com que eles não se contentem com apenas algumas frases prontas. Por enquanto, só acham bonito e cabível, sem sequer saber se a fonte é fidedigna. Esse contexto faz lembrar o conceito alemão de Kitsch da estética pós-moderna: prateleiras lotadas de livros canônicos que nunca foram abertos e quadros famosos reproduzidos aos montes nas casas de ‘pessoas comuns’, se a expressão for justa. Era o ‘boom’ da massificação com o advento da TV, do rádio e demais tecnologias da comunicação. O que digo alguns de antemão devem saber de trás para frente. Parece haver uma evolução desse processo. Há frases e arte que alguns poucos conhecem de fato e fazem o favor de disseminar, ainda que os leitores não estejam totalmente preparados para receber. Dizer que isso é ruim, seria muito, mas espero levantar algumas bandeiras e usar de algum tato que me foge, às vezes, para despertar possibilidades que apenas uma pequena porcentagem de pessoas conhece.

Será sempre um prazer compartilhar com mais pessoas, tantas possibilidades sem parecer um óvni maçante. Tento aprender, inclusive, a simplificar a linguagem para ser ouvida (Será que falhei aqui?). Espero que venham a sentir o mesmo relaxamento e ‘orgasmo psicológico’ que a leitura de bons autores proporciona, porque hoje, infelizmente, sequer há um grande número de casas com prateleiras abastecidas de livros que um dia poderiam ser lidos. Minha esperança é que estejam em pdf.