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Agosto, de Rubem Fonseca: a honestidade como ficção Zeca Fonseca / Divulgação

Agosto, de Rubem Fonseca: a honestidade como ficção

Na madrugada de 24 de agosto de 1954, o então presidente da República, Getúlio Vargas, sacramentou com o próprio sangue a fama de raposa política. Houve uma crise institucional no país, e quando ninguém mais imaginava uma saída e se acreditou que a oposição enfim chegaria ao poder, Vargas conseguiu, uma vez ainda, e de forma trágica, surpreender seus golpistas. Para compensar o cadáver do major da aeronáutica Rubens Florentino Vaz e desequilibrar o jogo em favor já não de seu governo, mas de um estrategista excepcional, o presidente tomou a corajosa decisão de fazer de si próprio outro mártir.

O mundo de Joseph Conrad

O mundo de Joseph Conrad

Em 1902 apareceu um livro e tanto, “O Coração das Trevas”, de Joseph Conrad, o polonês que, segundo Otto Maria Carpeaux, decidiu tornar-se membro desta outra elite inglesa: a dos marinheiros. A classificação é pertinente. Depois de ler sua novela pela segunda vez, me parece que o escritor realmente não ficaria à vontade num figurino de grande burguês. “O Coração das Trevas” foi publicado na época eduardiana, mas contextualiza-se numa era que descende da rainha Vitória e extrapola a de Eduardo VII: o imperialismo, que tem início por volta de 1870 e declina em 1914.

Ahí estábamos, por irnos y no

Ahí estábamos, por irnos y no

Em 1956, no mesmo ano do lançamento de “Grande Sertão: Veredas”, o argentino Antonio Di Benedetto publicou “Zama”. É o “romance da espera”: na colonial Assunção, Diego de Zama aguarda sua promoção para Buenos Aires durante dez anos. Nada acontece, então, e tudo também acontece, a desintegração dele, de sua vida, os pequenos nadas cotidianos se tornando a sua própria existência. No fundo, todos esperamos; no fundo, a letargia vai nos matando.