Autor: Nei Duclós

O Segredo dos Seus Olhos: três viagens num carrossel

O Segredo dos Seus Olhos: três viagens num carrossel

“O Segredo dos Seus Olhos”, de Juan José Campanella, é a composição de uma peça clássica em três movimentos. É um filme de amor dentro dos parâmetros conhecidos, ou seja, um casal próximo demais que não consegue se tocar durante o filme todo e só encontra uma solução no final. É um filme policial seguindo os trilhos do filme noir, onde um investigador solitário procura saber algo que todos querem esconder.

Chaplin, Kubrick e Spielberg: o verbo do cinema

Filme é o que enxergamos, inclusive a elipse, quando a cena nos remete a algo fora da tela. O exercício de ver serve para abordar o cinema pelo que ele é, quando estão dispostos os elementos chave para decifrarmos o que é visto. Limpar a obra da Sétima Arte de intenções adventícias é uma atividade valiosa, principalmente quando assistimos o trabalho de cineastas como Kubrick, Spielberg ou Chaplin. Ou quando conseguimos nos esclarecer sobre filmes aparentemente banais que provocam insights importantes para o trabalho ensaístico.

Cadeia, o grande sertão de Graciliano

Cadeia, o grande sertão de Graciliano

Cigarros ordinários acesos um no outro para economizar fós­foro, um restinho de iodo para desinfetar um ferimento no dedo, papel e caneta embrulhados em pijamas e outros trapos numa valise que carrega por todo lado, por mais de cinco prisões para onde foi jogado junto com milhares de outros presos políticos, misturados a vigaristas, ladrões e malandros, acompanham o escritor na sua faina: o de escrever notas que mais tarde vão continuar a literatura iniciada nos confins do Brasil seco e violento. Os livros que esmerilha na sua rotina brutal são narrados como personagens ocultos, um amontoado de letra miúda, mal alinhavadas e passíveis de todas as correções.

Livro cúmplice

Livro cúmplice

O livro é cúmplice quando revela o que ninguém sabe. A narrativa nos empolga porque, acreditamos, somos testemunhas de segredos só a nós revelados. É como um tesouro escondido, do qual possuímos a exclusividade do mapa. O autor dormia em seu anonimato de papel antigo até que fôssemos lá abrir uma fresta na sua solidão e degredo. Levamos esse tipo de livro de maneira disfarçada, misturado a coisas comuns, como uma revista ou um impresso qualquer. Se formos flagrados, sacudimos os ombros e pegamos a brochura na ponta dos dedos, com desdém.