Se você vem amanhã, desde hoje começarei a ser feliz

Se você vem amanhã, desde hoje começarei a ser feliz

Um dia a vida sempre nos separa. É quando sentiremos falta das brincadeiras no final de tarde depois de feita a tarefa do colégio, das conversas à toa em volta do lago da faculdade e dos “happy hours” depois do expediente do trabalho. Muitas pessoas passarão por nossas vidas, e, dessas, algumas nos deixarão suas trilhas sinceras de amizade e carinho, com a esperança do reencontro, nem que ele aconteça somente nas saudades dos nossos sonhos dormidos.

Mas foi de um encontro real que eu voltei para casa com meu coração cheio de amor. Viajei para reencontrar duas amigas antigas, depois de um bom tempo sem estarmos juntas. Percebi que, mesmo distantes e cada uma com suas novas vidas, continuamos as mesmas garotas sonhadoras que sempre nos mantiveram unidas, fazendo as mesmas piadas e rindo das mesmas coisas. Crescemos como todo mundo tem que crescer, mas ainda pintamos casas alaranjadas, inventamos poemas e queremos ver o mundo.

Quem tem um amigo nunca está sozinho. No “Soneto do Amigo”, Vinicius de Moraes diz que “o amigo é um ser que a vida não explica” e que, quando encontramos um amigo, encontramos a nós mesmos, é como olhar-se no espelho. O velho bom amigo nunca é perdido, pois amizade sincera nunca morre dentro do peito.

A amizade fica guardada em caixas de sapatos, nos bilhetinhos que trocávamos no colégio durante a aula. Ela também está nas agendas gordas que nem se fechavam direito onde colávamos fotos de artistas, papéis de balas, adesivos, e escrevíamos nossas histórias em todas as páginas e todos os dias.

Quem teve amigos, na infância, trocou papéis de carta e figurinhas das Seleções da Copa do Mundo. Fez festas surpresa de aniversário, na adolescência. Mais tarde, invadiu a fonte da universidade na alta da noite para nadar sob a lua e levar bronca do vigia noturno. Quem teve amigos, teve a quem abraçar quando terminou a faculdade e perdeu um emprego, quando contou que iria se casar, e, depois, se divorciar. Quem tem um amigo, tem com quem dividir os piores e os melhores momentos.

Por descobrirem diferenças nas suas semelhanças, amigos também brigam. Palpitam, discordam e se irritam, mas acabam se entendendo no churrasco da turma, na partida de futebol depois do trabalho e no rodízio do restaurante japonês. Porque os amigos nos ensinam que não vale à pena deixar o coração pesado de inveja, rancor e desilusão. Nos momentos de incompreensão compreendida, os amigos se dão as mãos e se perdoam, pois, na vida que segue, o amor é o sentimento mais sublime de todos, e por mais difícil que seja encontrá-lo nos outros e em nós mesmos, a amizade verdadeira nos mostra o caminho.

É que amizade deve ser tudo isso mesmo. Essa euforia que nos preenche quando nos reencontramos. O jardim que regamos para manter esse sentimento até o próximo encontro. Já estou com saudade, esperando pela próxima tarde de risadas, alegria e pitanga com as meninas. E já penso nos outros velhos amigos que há tempos quero rever, e também nos novos que ainda irei conhecer.

Enquanto não nos encontramos, vamos enviando nossos recados em versos escritos à mão, como saudades que deixamos em cartões-postais; ou por mensagens faladas, digitadas, ligadas, enviadas via cosmos. Assim, nossos amigos podem plantar a espera alegre e honesta do novo encontro.

Pois, quando estamos juntos, perdemos o medo da chuva. Esquecemos o céu nublado do cotidiano e até dá vontade de sair lá pra fora só para sentir a brisa gelada que nos fere o rosto e ouvir todas as dúvidas que trovejam. E, então, seguramos firme nossas mãos e seguimos pulando na água gelada das poças da vida até o corpo esquentar com o sol dessa velha, atual e futura amizade.