Não me sinto confortável em parabenizá-lo formalmente, Marcel Proust. Como um acadêmico que pesquisa, de maneira oficial, a sua obra, vejo-me em uma posição nada cômoda nesse dia 10 de julho de 2021, quando se comemora os 150 anos de sua chegada entre nós, de seu nascimento, em Auteil, nos arredores de Paris.
O talento de um escritor se mede muito pelo que diz, mas, sobretudo, pela forma que escolhe para o dizer. O italiano Umberto Eco (1932-2016), autor do romance “Em Nome da Rosa” — um clássico da literatura pós-moderna que evidencia a paixão de Eco por temas como a Idade Média e a semiótica ao narrar uma série de assassinatos de monges —, conhecia como pouca gente a importância de ser manter a linha quanto a entregar ao leitor o texto que convém.
Atribui-se a Vinicius de Morais, outras vezes a Millôr Fernandes e ainda outras a Nelson Rodrigues, a autoria da frase que caracterizou sua persona pública até recentemente: “Chico Buarque é a única unanimidade nacional”. Na versão do Poetinha se costuma acrescentar “e ele também tem olhos verdes”.
O assassino em série gramatical Endauro Rebouças, 26, cumpre a maioria dos pré-requisitos para o perfil criminal em questão. Preso em flagrante há dois meses, ao tentar violar uma regra de concordância, Rebouças nos concedeu — depois de inúmeras negociações — a seguinte entrevista.
Do namoro com a vicissitude prospera a ignorância abundante. O descaso com a educação propiciou o calabouço de nossas virtudes. Saibamos reconhecer: o plano deu certo. Estava tudo armado para a festa pobre, de convidados ilustres, esturdiar a nossa República. Faltava, apenas, uma pitada de crueldade. E, nesse quesito, sempre somos primorosos em dobrar a meta. Do monturo ergueu-se um desalmado.