Autor: José M. Umbelino Filho

Adeus ao generoso poeta

Adeus ao generoso poeta

Durante toda minha infância, ouvi histórias do primo Gilberto. Meu pai falava de sua biblioteca, de sua vida no Rio de Janeiro, de sua imensa capacidade de trabalho, de sua generosidade. Invariavelmente, ele me contava a vez em que, vencendo a timidez, enviou-lhe uns versinhos de sua autoria e recebeu, em retorno, uma detida, longa e carinhosa análise. Talvez mais generosa que criteriosa. O poeta deixaria o que estivesse fazendo, por mais importante ou trabalhoso que fosse, para analisar com atenção os parcos e amadores rabiscos dos parentes.

O melhores livros lidos em 2023 (José M. Umbelino Filho)

O melhores livros lidos em 2023 (José M. Umbelino Filho)

O ano foi daqueles. Não me deixará saudades, esse 2023 sem metafísicas, com sua cauda de pavão e seus dentes de besta do apocalipse. Vade retro, tropece na saída e caia com a bunda para cima, satanás. Ainda assim, como costuma ocorrer, as leituras foram magníficas; pois é de praxe que a literatura nos salve sempre que a vida enfeia — ou que recorramos ao mergulho no poço sem fundo de um bom livro toda vez que a realidade afina. Li umas coisas absurdamente boas nesse ano.

Alamut, de Vladimir Bartol: Nada é verdadeiro. Tudo é permitido

Alamut, de Vladimir Bartol: Nada é verdadeiro. Tudo é permitido

A máxima nietzschiana “Nada é verdadeiro. Tudo é permitido” serve de fundamento para a reflexão filosófica de “Alamut”, romance do escritor esloveno Vladimir Bartol. Duas coisas me impeliram à obra: 1. a belíssima edição de capa dura e rosada da Morro Branco (escolho livros pela capa) e 2. o fato de ser um livro publicado em 1938 por um esloveno sobre a história muçulmana como metáfora crítica do regime fascista italiano.

O efeito Dunning-Kruger: por que não esconderam os rostos?

O efeito Dunning-Kruger: por que não esconderam os rostos?

O efeito Dunning-Kruger está relacionado à metaconsciência e à autoavaliação no desempenho de atividades. Ele estabelece que, em geral, todos nós tendemos a superestimar nossa capacidade naquilo que conhecemos pouco e subestimar naquilo que conhecemos muito. Não é, portanto, uma ferramenta teórica criada para analisar movimentos coletivos, comportamento de massa, mitologia social. É claro que não se pode explicar os extremistas apenas por ele. Existe muito mais coisa envolvida. Mas acredito que olhar o fenômeno a partir dele permite algumas inferências interessantes. E nos ajuda a pensar melhor no tamanho do buraco em que coletivamente nos metemos.