Os 12 perfis mais comuns de leitores da Revista Bula

Os 12 perfis mais comuns de leitores da Revista Bula

Exigentes, antenados, divertidos, questionadores… A Bula tem a satisfação de possuir um público diversificado de seguidores. Como de costume, esta lista não tem a pretensão de ser precisa, muito menos definitiva. Brincadeiras à parte, apresentamos apenas 12 perfis, para que você não se canse e aborte a leitura antes do gran finale. Existem “dozenas” de outros perfis aqui não citados, motivo pelo qual talvez você se não se sinta representado por este ou aquele. Oportunidade para a manifestação dos seus valiosos comentários. Exceção do primeiro perfil — que é um caso emblemático na literatura universal —, para facilitar a leitura adotamos o gênero masculino. Mera conveniência, uma vez que o perfil feminino é predominante em nosso quadro de leitores (obrigado, garotas!) e os tipos descritos se aplicam a todos, sem distinção. A propósito: Qual o seu perfil?

A Pollyanna

Adora textos fofos. Que falem de amor eterno e perdão incondicional, do valor terapêutico do abraço, de laços de ternura e bichos de estimação, da influência virtuosa dos amigos em nossas vidas e por aí vai. Para ela, tudo é absurdamente maravilhoso, a criação é irretocável e o mundo perfeito fica logo ali: cor-de-rosa, habitado por criaturas românticas e ursinhos carinhosos. Autoajuda é para os fracos: sua autoestima ocupa a cobertura do edifício da vida e nada lhe fará desacreditar na força da esperança. Deleita-se com sua leitura preferida deslizando o dedo sobre o tablet ou smartphone, em frente a uma praia, recitando “O mar é amaro, amar é lindo, o amor é lindo!”, de Caetano Meloso.

O encrenqueiro

Pouco lhe importa o tema tratado. O pH do seu estômago está sempre próximo do zero. Ele quer confusão. Barraqueiro, detona a opinião dos outros como quem faz carne moída de patinho ou músculo. E, se o assunto for polêmico, sai de baixo. Sutil como um rinoceronte numa loja de cristais, não tem essa de escolher as palavras. Aliás, nem tem conversa, mas monólogo. Pau é pau, pedra é pedra e ele vai te esperar na virada da esquina, até o fim do caminho. Para ele, todos os pôneis são malditos. Paga geral, solta fogo pelas narinas e que pegar todo mundo pelo rabo, que — na sua visão de ogro revoltado —, foi feito para ser chutado.

O observador

Não curte, não compartilha nem comenta. Reservado, sem ser marrento, é o tipo que lê e guarda pra si. Não quer ou não acha que deva se envolver. No máximo copia o link e envia pro amigo, explicando bem explicadinho por que está mandando, muitas vezes se desculpando antecipadamente por incomodá-lo. “Leia e opine quando tiver um tempinho. Achei interessante.”. Discreto, não tem nada de indiferente, apenas evita se comprometer. Viu algum desses por aí? Nós também não.

O crítico

Diferentemente do encrenqueiro, que é um chato de galochas, esse perfil está atrelado a um pseudointelectual mal resolvido. Ele escolhe as palavras (embora derrape nos indefectíveis “pq”, “vc”, “top”), demonstra estar antenado e quer ser visto como um formador de opinião. Muitas vezes suas análises são mais rasas que o saldo da conta bancária do brasileiro médio, mas ainda assim ele tenta. Suas ideias carecem de upgrade urgente. Textos longos são sua marca registrada. E ficam mais longos ainda se alguém lhe der trela.

O culto

Um apaixonado pelas artes e pela cultura. Frequenta a Bula, Obvious, Medium, Open Culture e pelo menos mais uma dezena de páginas e blogs de literatura e jornalismo cultural, muitas delas indicadas pela própria Bula. Não perde uma edição da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) e da Bienal do Livro de São Paulo, adora as dicas de bons vinhos, analisa com profundidade as crônicas publicadas, discorre sobre livros e autores renomados e do circuito alternativo, justifica com propriedade seu gosto musical, indica lugares bacanas onde rolam ótimos saraus. Tudo leva a crer que seja esse o perfil mais recorrente de nossos leitores. Prova disso, é que você dirá: “Ei! Esse cara sou eu!”. A Bula acredita, pode acreditar.

O apelão

Leva a sério tudo o que se posta. Se o texto fala mal de Guerra dos Tronos e Harry Potter, questiona a qualidade literária do velho Drummond ou critica um livro que marcou sua vida, pode se preparar: sangue nos olhos, faca nos dentes e fel na boca são os primeiros sintomas. Vem convulsão aí. O vulcão outrora adormecido acorda cuspindo lava pra tudo quanto é lado. Sobra pra todos: o autor do artigo e a revista digital que lhe cedeu o espaço, os seguidores que ali deixam seus comentários despretensiosos, o estúpido do mediador que tinha mais é que ficar de fora da conversa e até pro gato que teve a péssima ideia de se esfregar na perna dele enquanto estava digitando. A namorada, o esposo ou a mãe vão pagar o pato assim que ele chegar em casa. Ah!, se vão!

O abusado

Também conhecido como sem noção. Tamanha é a sua empolgação pelos escritos, que acaba misturando leite com couve e se apaixona pelo articulista. Manda propostas indecentes via WhatsApp, e-mail, SMS, sinais de fumaça e Código Morse. Se não for correspondido (100% dos casos desde a estreia da Bula, pelo menos até ontem), o bicho pega: passa a criticar tudo do ex-objeto de sua admiração platônica e se transforma num encrenqueiro (veja lá em cima). Um dia se cura de vez, convertendo-se num mero observador, antes de evoluir para um perfil mais, digamos, político ou culto.

O sábio

“Devemos arcar com nossas responsabilidades diante da vida.” “Nenhum ser vivente sobre a terra está livre das leis de causa e efeito.” “O maior mérito da condição humana está no entendimento e na aceitação de nossas limitações.” Com frases de efeito como essas, esse ser envolto numa aura mística apresenta-se como arauto da verdade, último mensageiro encarnado de conhecimentos superiores e ancestrais. Misto de ermitão e asceta, seus comentários são uma fonte ilimitada de mantras repetidos e dispensáveis quando o assunto nada tem a ver, como “20 livros para morrer antes de ler.”. Resumindo: substitua aí em cima o nome do perfil por “O pé no saco”. Ponto.

O viajandão

“Então, também axei… Tipo isso, num é? Serah, mano?”. Com comentários desse nível, dá toda a pinta de não ter entendido p. nenhuma do que leu, mas não quer ficar de fora da discussão, ainda que nunca consiga ficar totalmente por dentro. A página da Bula é apenas uma das 32 janelas abertas no rodapé do seu monitor, onde mistura sites de todos os assuntos antes de parar pra tomar café e comentar com os amigos por que deixou de fazer faculdade de design para iniciar um curso de gastronomia. Não é um geek com TDAH. É só um viajandão mesmo, inofensivo e gente muito boa.

O compulsivo

Não consegue ficar mais do que duas horas sem visitar a página da Bula. Os robozinhos do Facebook, por conta disso, colaboram para alimentar seu vício, cuspindo na sua timeline todos (sem exceção) os posts da revista. E olhe que são mais de 20 por dia. Saiu nova lista (mesmo uma idiota como esta)? Lê de cabo a rabo. Pensamentos de Mia Couto, Guimarães Rosa e Clarice Lispector? Dá-lhe compartilhada. Alguém deu opinião que bate com seu ponto de vista? Tome-lhe curtida e emoticons. Diante desse perfil tão fiel, a única coisa a dizer é: “A Bula agradece a sua audiência e lhe deseja um bom dia. Volte sempre!”.

O político

Também conhecido como “conciliador”. Tem uma fabriqueta de panos quentes no quintal de casa. Rei do deixa-disso, está sempre na campanha missionária de apaziguar os ânimos cada vez mais acirrados nesse mundo pós-moderno. “Acredito que o articulista apenas quis dizer que…”. “Concordo contigo. Por outro lado, sem querer ser o dono da verdade…”. Sem tomar partido, procura manter o diálogo aberto. Em tempo: não vamos confundi-lo com os velhinhos de Brasília. Ai já é sacanagem! Esses nosso leitores são criaturas honestas, de boa índole, muito longe do perfil “ladrão de colarinho branco” que infesta o planalto central.

O zoeira

Amante da desordem pública. Quanto mais o tema esquenta, mais divertido lhe parece. Adora ver as chamas subindo pelas lonas do circo, o palhaço sendo ridicularizado (do tipo: fazendo papel de palhaço), o leão mastigando a cabeça do domador, o trapezista errando a mão e se esborrachando no chão, o engolidor de espadas rasgando a cueca, os cavalos cagando no picadeiro, o contorcionista gritando de dor por causa dos bicos de papagaio, o elefante fazendo extrato de tomate da bailarina seminua sob sua pata levemente abaixada. Achou graça? Ele mais ainda! Findo o quebra-pau, o gajo fecha a Gestalt com um sonoro e inaudível “Kkkkkkkkkk!”.