Prenda a respiração: filme na Netflix é uma jornada eletrizante! Divulgação / Sony Pictures

Prenda a respiração: filme na Netflix é uma jornada eletrizante!

Gareth Evans mergulha no universo das gangues asiáticas em “Operação Invasão”, encontrando o tom certo de agilidade, mas pesando a mão na carga de violência. Ao longo de 101 minutos, o texto de Evans se estende pelo temperamento de figuras encarceradas em perturbações diversas, sem prejuízo do comentário social acerca das relações promíscuas entre o Estado e o crime. O diretor-roteirista fixa o momento preciso em que o poder oficial e organizações criminosas fundem-se, constituindo um corpo harmônico numa Jacarta sitiada por bandidos de uniforme e pelos que matam-se entre si nos becos escuros de uma megalópole destituída da aura de paraíso de um tempo sepultado no inexorável ontem.

A desagradável rima no título em português — para o original “The Raid: Redemption” alguma coisa sobre atacar e redimir-se, convenhamos, teria caído muito melhor — passa longe de sintetizar o que Evans tem em mente. Tama Riyadi, o gângster de Ray Sahetapy, adquiriu status de uma genuína lenda no submundo, muito por causa da providencial inação da polícia. Ao longo de quatro décadas, todos passaram a venerá-lo como a uma autêntica divindade do crime, personificação irrepreensível do espírito de frouxidão moral e desprezo aos valores civilizatórios, passar por cima da lei do Estado sem cerimônia. Malgrado não apareça o bastante, o personagem de Sahetapy é quem serve de bússola para a narrativa, fornecendo pistas sobre para onde vai o filme, que não escapa de sua vocação de sátira apocalíptica inundada por litros de sangue, justamente o que deseja o público.

O diretor faz bom uso, não obstante exagerado, da linguagem do videogame, facultando à audiência optar entre quem pode vencer um combate tão duro quanto necessário. A partir desse momento, percebe-se muito bem a intenção de Evans quanto a virar a chave do enredo e perseverar na imagem messiânica de Rama, o policial vivido com sincera energia por Iko Uwais. Depois de sequências plácidas, em que Rama, há pouco admitido na corporação, abre sua rotina de homem comum e exímio pai de família, rezando sobre um tapete num cômodo quase nu, ainda carecido da luz da manhã; dando cabo de uma esfalfante série de calistenia; e dando na esposa grávida um beijo de despedida, e vai trabalhar. Aguarda por ele uma van com o restante da equipe, incluindo Wahyu, o tenente que lidera um invencível propinoduto, cada vez mais incomodado com o temperamento caxias do neófito. Ao longo de “Operação Invasão”, o antagonista muito bem elaborado por Pierre Gruno vai mostrando a que veio, apesar das cenas de brigas que desafiam a gravidade serem, de fato, a cereja desse bolo. Em “Operação Invasão 2”, Evans vai mais fundo nos descaminhos da capital da Indonésia e até o espectador não iniciado e pouco afeto à ubíqua pancadaria do cinema macho, entre os quais me incluo, há de usufruir melhor da experiência.


Filme: Operação Invasão
Direção: Gareth Evans
Ano: 2011
Gênero: Ação/Crime
Nota: 8/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.