10 filmes mais caros e mais assistidos da história da Netflix Ed Miller / Netflix

10 filmes mais caros e mais assistidos da história da Netflix

Tão logo abre os olhos para o mundo, o homem principia uma caminhada ao incerto. Não somos senhores de ninguém nem de nada, nem de nossas próprias vidas, malgrado, por absurdo que soe, haja quem não só trate sua passagem pelo plano da matéria feito o cronograma de uma multinacional, sem margem alguma para deambulações de qualquer natureza, como dilata esse pérfido expediente às outras pessoas — mormente às mais frágeis, cuja alternativa mais judiciosa é mesmo submeter-se. Por óbvio, nem sempre esses grupos ditos minoritários conformam-se em ser tiranizados, e destarte nascem as flores do mal que revestem os campos de toda a Terra. O pensamento filosoficamente ordenado vem ao socorro da natureza humana, levando-a a absorver esses cenários que se nutrem do caos, e não se permitir intimidar com as trapaças do destino; por outro lado, a cada um cabe entender que suas atitudes, seus medos, angústias, dilemas e também suas glórias são uma responsabilidade que criatura alguma, deste mundo ou de qualquer outro, pode assumir em seu lugar, e que a estrada, por pedreguenta que seja, pode levar a uma parte em que a vida vá se lhe revelar em sua esfera mais misteriosa, de onde ele poderá tirar muitas das lições que lhe faltam para seguir em harmonia.

À medida que os anos se sucedem e o tempo passa para não mais voltar, mais nítida se torna a impressão de que tudo converge para um fim irremediável e avassalador, de que ninguém consegue escapar. Não obstante, a teimosia que faz com que o ser humano drible a morte é a mesma que o lança num precipício de dúvidas que confundem-no e o aniquilam das maneiras mais perversas, quando teria sido muito mais producente, mais nobre e mais sábio que todos enxergássemos nossas diferenças, evidentemente, mas afinássemo-nos num igual propósito, uma vez que estamos no mesmo barco. O cinema lida com as diferenças entre as civilizações, entre as sociedades, entre as culturas e entre os indivíduos da forma que sabe, e quase sempre é necessário empenhar uma montanha de dinheiro no intuito de persuadir a audiência a crer no bom, no belo e no justo, sem garantia alguma de que vá conseguir. “Agente Oculto” (2022), a narrativa distópica dos irmãos Anthony e Joe Russo sobre malfeitos de quadros da CIA, o órgão que responde pela defesa do território americano contra ameaças exógenas, empata com “Alerta Vermelho”, levado à tela por Rawson Marshall Thurber também em 2022, que vibra na mesma frequência, mas falando de burocratas do FBI, a autarquia de proteção às instituições dos Estados Unidos: cada um investiu duzentos milhões de dólares (!) entre cachês, diárias de técnicos, aluguel de locações, as várias fases da produção e a distribuição final. Somados, ambos os orçamentos correspondem a quase o dobro do PIB das Ilhas Marshall, arquipélago no Pacífico oriental entre o Japão e a Austrália, que junta entre tudo quanto produz 249 milhões de dólares, ou cerca de sete vezes a soma das riquezas de Tuvalu, também na Oceania, com 63 milhões. A Bula reuniu essas e mais oito joias da coroa, todas na Netflix, dispostas da mais cara para a de estimativas mais, digamos, sóbrias, querendo que você também usufrua desse banquete regado a wagyu com crosta de ouro e caviar branco. Em meio à tamanha ostentação, quem se importa se jogarmos um pouquinho d’água no champanhe dos magnatas de Hollywood e indagarmos: precisava mesmo?