Romance épico na Netflix vai te emocionar com história real que revolucionou a literatura Ricardo Vaz Palma / Pyramide Films

Romance épico na Netflix vai te emocionar com história real que revolucionou a literatura

Filme da diretora saudita Haifaa Al-Mansour, “Mary Shelley”, de 2017, narra parte da vida da autora de “Frankenstein”, do momento em que em que ela conheceu seu marido, Percy Bysshe Shelley, até a concepção de sua magnum opus. Neste retrato fílmico que apresenta uma Londres movimentada pela Revolução Industrial durante a era vitoriana, também destaca o estilo de vida boêmia, vanguardista e, ao mesmo tempo, decadente da escritora e seu marido poeta.

Divididos entre tempos de bonança, quando P.B. Shelley conseguia pagamentos de editoras por suas obras, e ostracismos, depois que ele e Mary consumiam todo o dinheiro e se endividavam com festas, jantares e viagens, o longa-metragem mostra como a vida da escritora que marcou a literatura gótica foi intensa e recheada de altos e baixos.

Na história de Al-Mansour, ela nos apresenta P.B. Shelley e Mary como um casal jovem, irresponsável e imaturo, ora vivendo momentos doces e apaixonados, ora angustiados com os rumos de suas vidas e atormentados pelas consequências de suas escolhas e vivendo um romance tóxico. Mesmo assim, rodeados por outros artistas florescentes de seus tempos, boêmios e intelectuais.

O filme também mostra a amizade do casal com Lord Byron, que teve grande influência na poesia de P.B. Shelley e estava presente quando um esboço de “Frankenstein” foi escrito. Era verão de 1816, quando o casal passou as férias com Byron, John William Polidori, e Claire Clairmont, em Genebra. Durante um desafio proposto pelo próprio Byron, para que cada hóspede criasse uma história de terror, Mary, que tinha apenas 19 anos, escreveu sobre o monstro criado em um laboratório por Victor Frankenstein. Durante a mesma brincadeira, Polidori escreveu um rascunho do viria a ser, mais tarde, “O Vampiro”.

Com resistência à época em relação às autoras femininas, a primeira edição do livro foi publicada sem o nome de Mary. Só em 1831 veio o devido reconhecimento e ela teve seu nome creditado junto à obra. Mas o talento e inspiração de Mary não veio do nada. Com uma criação progressista e à frente de sua época, ela é filha do filósofo do utilitarismo William Godwin e da escritora feminista Mary Wollstonecraft. Criada para ser intelectual, a autora gótica teve acesso a viagens educacionais, uma vasta biblioteca dentro de casa e tutora doméstica. Com esse conjunto de circunstâncias, não é de se surpreender que ela tenha se tornado quem foi.

Assim como o movimento artístico que seguia, o filme também tem influências do romantismo e do gótico em sua estética, seguindo uma fotografia sombria e cenários e figurinos preciosistas e ricos. O filme tem roteiro de Emma Jensen, que também escreveu “I Am Woman”.

“Mary Shelley” não é apenas uma biografia, mas um olhar de descoberta sobre a vida, a morte e as paixões. O filme explora a ascensão da escritora que desafiou as regras da sociedade e a hegemonia masculina para colocar seu próprio nome na história da literatura. Talvez a figura doce e encantadora de Elle Fanning não tenha sido a melhor escolha para o papel de Mary, que aparentemente era muito mais vívida, mundana e rebelde. Mesmo assim, é revigorante ver mulheres vanguardistas, como Al-Mansour, primeira mulher de seu país a dirigir um filme hollywoodiano, homenagear outras mulheres de grande estatura.


Filme: Mary Shelley
Direção: Haifaa Al-Mansour
Ano: 2017
Gênero: Biografia/Romance/Drama
Nota: 7/10