13 livros e um destino Leitor Foto / Maarten Zeehandelaar

13 livros e um destino Leitor

Se há uma frase que me tira do sério é que aquela que diz que “Literatura é para poucos…” Entretanto, de tanto ouvir dos intelectuais tal sentença-refrão, cansei-me de contestá-la em roda de conversa; e propus-me ao desafio de arrazoar sobre os 13 mais inspirados livros da história literária brasileira, de modo a disponibilizar uma espécie de lista de sugestão de (re)leitura para 2023.

Ei-la:

Informo que, baseando-me na máxima do superlativo Nelson Rodrigues de que toda unanimidade é burra, não me abstive de considerar a importância ficcional de outros autores e obras destes trópicos brasilis. Não obstante, como indica o título da crônica, a árdua incumbência pautou-se pela seleção de apenas 13 livros e um destino Leitor. Após breve preâmbulo, pondero que, sobretudo em razão da narratividade original, houve acirrada disputa pela medalha de ouro, entre “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa; e “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis. A terceira colocação fora atribuída ao romance machadiano, “Dom Casmurro”, por indiscutíveis razões de desestabilização da temática do adultério, tão cara aos escritores oriundos das escolas realistas, como Flaubert, Stendhal, Tolstói e Eça de Queiróz, por exemplo.

O quarto colocado “Macunaíma”, de Mário de Andrade, obteve recomendação por sua magnífica releitura das contradições congênitas de uma desvairada nação, sem caráter a clamar por macumba e ritos antropófagos. Em quinto lugar, ficou a obra literária “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto, por sua reconhecida perspectiva de ruptura pós-romântica, que se instaura pelo ideário releitura irônica do conceito de pátria. Na sexta posição, eis o romance épico “Viva o Povo Brasileiro”, de João Ubaldo Ribeiro, que propõe o diálogo com a questão do ritual ameríndio praticado pelo caboclo Capiroba, o Canibal. Neste caso, a justificativa plausível é que o discurso se pauta por implícitos acenos ao passado histórico, ilustrado pelo mito parodístico de Oswald de Andrade: “Tupy or not tupy — that is the question?”

A sétima colocação será ocupada por “Crônica da Casa Assassinada”, de Lúcio Cardoso, magnífica interpretação da alma humana, por intermédio de instrumentos de análise e introspecção, em consonância com a laboração de um estilo embasado por diário, confissão, correspondência etc., assinados por inúmeras personagens multifacetadas. A obra-prima “Fogo Morto”, de Lins do Rego, fora escolhida para figurar no oitavo lugar por esboçar um retrato proustiano da herança colonial, através da decadência do ciclo da cana-de-açúcar. A nona posição vem a ser representada pela novelística de “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector, por sua investida que se ancora no intradiscurso narrativo.

Para o décimo lugar foi indicado “O Cortiço”, de Aluísio Azevedo, organicidade social arquitetada pela visão determinista, por sobre a saga de João Romão, Bertoleza, Rita Baiana, Pombinha etc. Ao décimo primeiro posto, sugiro a lenda poética “Iracema”, de José de Alencar, que pode servir de parâmetro para se investigar parte do percurso da prosa de ficção, forjada pelo projeto de nacionalidade romântico. Para a décima segunda posição optei por “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, de Jorge Amado, pela força de imaginação criadora, que se nutre da irreverência para reativar a discussão sobre a infidelidade feminina. Na décima terceira cátedra, a opção se dá por “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, cujas peregrinações dos imigrantes capitaneadas por Fabiano, Vitória, Baleia e a prole anônima ultrapassam a fronteira da denúncia social, incutindo-se no cerne do imaginário do sertão nordestino.

Enfim, ao Leitor peço que se sinta convidado a adentrar pelo destino dos treze livros comentados resumidamente. Boa leitura!…