Novo suspense de ação da Netflix é um dos filmes mais vistos da semana no mundo

Novo suspense de ação da Netflix é um dos filmes mais vistos da semana no mundo

Contíguo ao som e a fúria de que se faz a vida, vêm junto aspirações as mais diversas, as mais impensadas, muitas envoltas numa bruma de sonho, de delírio, quase todas acalentadas pelo desejo de adequação que norteia a vida do homem desde sempre. Precisamente por essa necessidade de se ajustar ao meio em que deve se inserir é que o gênero humano leva a termo empreitadas não raro eivadas de boa medida de loucura, apostando numa ascendência incertíssima sobre a realidade, por mais que saiba que é a austera realidade quem domina o homem e o forja ao sabor das circunstâncias. Evidentemente, é factível um desvio pontual da rota, momento em que se engendra um ou outro ajuste a fim de se atingir determinada meta num tempo mais breve. Contudo, a frieza de nossos planos vai de encontro à insensatez da vida com toda a violência, trucidando-os sem piedade, e deixando claro que é inútil tentar ir além do que ela nos permite. E a vida segue assim, fazendo questão de não fazer sentido, cheia de suas tantas surpresas e seus tantos achaques, nos desafiando a não jogar a toalha.

Viver em sociedade adquire notas de uma disputa constante entre o bem e o mal, onde quase sempre, como sabemos todos, este último é o vencedor. Vilões dos mais altos coturnos se amalgamam às multidões, escondem-se nos ambientes mais insuspeitos, tiram a lei para dançar e sapateiam sobre ela na primeira oportunidade, amparados pela morosidade da justiça. Nesse caldo de generalizada desordem, viceja uma imensa gama de novos delinquentes, que por seu turno encobertam outros criminosos, e esse círculo vicioso só se completa no instante em que surge alguém disposto a personificar o heroísmo um tanto autodestrutivo que poupa os demais. “Plano de Aula” (2022) é um thriller bastante original. O polonês Daniel Markowicz faz de seu filme um ensaio muito particular sobre a sedução da droga entre alunos de um colégio que se deteriora corroído pela omissão e pela incúria diante de cenário tão dramático, à espera desse salvador sui generis, repleto de defeitos e acossado por mil fantasmas.

Esse é mesmo o espírito de que o filme de Markowicz se reveste, destacado pelo texto preciso de Daniel Bernardi. Piotr Witkowski dá vida a Damian Nowicki, um policial cheio de arestas a aparar, primeiro consigo mesmo, depois com o restante do mundo. O diretor faz a acertada escolha de priorizar a figura de Nowicki, malgrado desponte uma legião de tipos malditos e corruptos, dando margem para que figuras adjacentes tenham seu momento na história. Nessa categoria entra Agata, a escrupulosa vice-diretora de Roma Gasiorowska, com quem o personagem de Witkowski divide lances de respiro cômico-romântico — mais cômico que romântico, para ser preciso, ainda que no terceiro ato Markowicz se renda a excelente química dos dois. O argumento da vingança de Nowicki, que parece ter se licenciado da polícia para colocar em marcha o plano de vingança que dá azo ao enredo — esse detalhe resta bastante meio confuso, infelizmente —, é trabalhado com esmero, e o carisma de Witkowski é capaz de segurar a trama mesmo naquelas horas em que a tensão dramática sobe de chofre e alguns arcos ficam em aberto.

As sequências de ação se constituem, inquestionavelmente, no trunfo do filme, com coreografias visivelmente calculadas de modo a reduzir ao máximo a brecha para especulações quanto ao desempenho do protagonista. Markowicz ainda aproveita para reforçar a vocação noir de seu trabalho enfatizando os azuis e cinzas dos ambientes captados em sua total profundidade, malgrado a fotografia não tenha sido creditada. “Plano de Aula” é mais um fruto saboroso da boa safra do cinema polonês recente, a exemplo de “Bartkowiak” (2021), também de Markowicz; “Hejter” (2020), de Jan Komasa; e “Como Me Apaixonei por um Gângster” (2022), de Maciej Kawulski.


Filme: Plano de Aula
Direção: Daniel Markowicz
Ano: 2022
Gêneros: Crime/Suspense/Ação
Nota: 8/10