O filme envolvente, ousado e brilhante da Netflix que vai de nocautear e te encharcar de lágrimas El Deseo / Iglesias Mas

O filme envolvente, ousado e brilhante da Netflix que vai de nocautear e te encharcar de lágrimas

A fotógrafa de publicidade de artigos de luxo é a mesma que contrata a escavação dos restos mortais de parentes assassinados na guerra civil espanhola de 1936 a 1939, que matou um milhão de pessoas e deixou um saldo de 100 mil desaparecidos.

Na nação partida, a ruptura familiar precisa ser minimamente recomposta para que se resgate a identidade de gente que virou pó e que ao sucumbir deixou uma herança de mães solteiras e homens omissos, gerando uma orfandade endêmica na vida social presa a um eterno presente e que precisa se reencontrar por meio da memória e de sua mestra, a História.

Em “Mães Paralelas” (2021), Pedro Almodóvar exerce sua arte, com a narrativa que imita cenas de novela televisiva pontuada pelo impacto dramático que reflete o exagero das emoções sem entregar-se ao dramalhão. O desdobramento enxuto das situações-síntese transparece um folhetim antigo com roupagem de vanguarda.

Mulheres de diferentes gerações têm suas filhas trocadas na maternidade, uma alegoria da dolorosa e necessária experiência de enxergar o Outro encarnando seus traumas e sendo reunidas pelo acaso que se revela um destino.

Obra de quem trabalha seu ofício até atingir o objetivo do virtuose que se despe de todas as inutilidades e chega ao osso da sua presença na terra. Roteirista e diretor escudado por uma equipe onde se sobressai Penélope Cruz, a intérprete maior desse perfil de dores em busca da redenção.


Filme: Mães Paralelas
Direção: Pedro Almodóvar
Ano: 2021
Gênero: Drama
Nota: 10/10