Levanta, me serve um café, que o mundo acabou

Levanta, me serve um café, que o mundo acabou

Não importa o tamanho do regaço, eu vou é torcer pelo meteoro. Há milênios, os micróbios e as tempestades tentam (sem êxito) dar cabo da humanidade. Solidário aos malemolentes esforços da lama, eu aposto no cometa, na inexpugnável e desgovernada pedra fumegante que vai partir o planeta em pedacinhos, resolvendo de uma vez para sempre todos os dilemas do homem, como a fome de amor na África e a epidemia de banha nos Estados Unidos. Unidos venceremos? Às favas! Segue abaixo o melhor dos manuais para se destruir um mundo pior.

Nas catracas mentais dos endiabrados como yo, o risco de desaparecermos do universo é diuturno, é iminente. Por exemplo, um eminente Zé Ninguém (que mora lá onde não mora ninguém, onde não passa ninguém, onde não vive ninguém) espera para qualquer momento uma chuva de ex-gafanhotos veganos que comerão os cérebros de homens e mulheres, ao penetrarem pelas narinas e olhos que a terra não haverá de comer. Apenas os idiotas sobreviverão. Portanto, quem viver chorará de rir da nova cambuia de acéfalos que recolonizarão o planeta, começando a coisa toda do zero, partindo da inofensiva e fisiológica punheta no corguinho, até o flerte, a cópula propriamente dita, o conclave da clava com a fenda, o encaixe perfeito do côncavo com o convexo, a explosão orgástica a partir da qual gametas driblarão rimas e enxaquecas no afã de penetrar na lira e perpetuar a nova espécie.

E por falar em causar espécie, um músico com uniforme branco e chapéu de palha de Maracangalha afirmou (antes de morrer por ter comido moranguinhos do nordeste embatumados com defensivos agrícolas, e ter ouvido, à exaustão, a discografia completa da “Calcinha Preta”, desde a sua formação clássica, quando a bunda ainda levava remendos nos fundilhos) que vem por aí mais uma leva de cantores-que-são-bonitos-mas-não-cantam-nada criados em cativeiro pela indústria do entretenimento, cujas canções de péssima qualidade haverão de perfurar os tímpanos dos incautos, corroendo qualquer nesga de bom gosto musical. Mesmo os ignaros que curtem as baladas pedagógicas do sertanejo-universitário terão as suas mentes combalidas, derretidas, transformadas num novo tipo de gel fixador para cabelos de cantores ordinários, tão aderente quanto carrapato e refrão de calipso.

De olho no apocalipse, a praga da hora é a seguinte: o ebola. Urge que todos deem bola pro tal vírus ebola, pois ele vem com tudo, com fome de dizimar planeta. Especialistas em bola-gato balbuciaram que o microrganismo tem tropismo (predileção) pela musculatura de técnicos retranqueiros e de atletas adeptos ao futebol-força, ao futebol-de-contenção, aquele jogo feio que prioriza a destruição das jogadas de efeito ainda no nascedouro. Uma vez destruída a musculatura da criatura, o ebola começa a carcomer — sem serrote nem piedade — os ossos dos pernas-de-pau, a fazer justiça com os próprios dentes.

No que tange às pestes definitivas, eu vos digo ainda: antes de tombar à porta do INCRA, um índio bêbado me falou que a aguardente já tinha acabado e a paciência de Deus, idem. Ou seja, vinha chuva de flechas e raios por aí. Padres exorcistas do Congresso Nacional confessaram de joelhos, a trajarem lingeries cor de castiçal, terem perdido totalmente o controle sobre os demônios parlamentares, de tal forma que a tendência é que eles (os demônios) desistam de ocupar corpos tão vulgares, para evadirem da verdadeira putaria que se transformou aquela casa das leis vermelhas, para possuírem os corpos dos cidadãos comuns. Parece o fim do mundo?! Tomara que sim, pois tem mais tragédias de onde essas saíram: os rios vão secar; as lágrimas, rolar. As temperaturas na calota vão subir tanto, que as geleiras vão derreter, o nível de água dos oceanos vai sopitar e o mar (que antes quebrava na praia e era bonito demais) vai provocar o massivo afogamento de gansos nas cidades litorâneas. O chão vai tremer todas as vezes que ela passar (possivelmente, vulcões cuspirão esperma). E finalmente, depois da tempestade, aqueles que aguardavam a bonança, mas viviam escorados esperando a morte chegar, serão soterrados por um descomunal deslizamento de terra e lixo que vai cobrir tudo: os homens bons, os homens maus, todo mundo, de mamando a caducando. E se nenhuma dessas espetaculares profecias se concretizar (ou seja, se nada der certo), levantem rapidinho de vossas poltronas, pois esta crônica vai se autodestruir em cinco… Bum!!! Já era.

Título tomado de empréstimo de Eduardo Dussek.