Filmes

Restaurar o prestígio de uma das figuras de maior importância da história da América parece ser a maior preocupação de Mark Amin ao dispor-se a traçar o perfil de um mito, com toda a simbologia que a palavra pode carregar. Cheio de reviravoltas, “Herói da Liberdade” (2020) se concentra na bravura mitológica de Shields Green (cf. 1836-1859) a fim de iluminar uma quadra particularmente tenebrosa da América, não de todo superada.

A receita para se criar um fenômeno artístico e cultural é desconhecida, mas sabe-se que é preciso talento, criatividade e, no caso dos Racionais, um bocado de raiva. O grupo de rap pioneiro e revolucionário nasceu nos anos 1980 e mostrou a cor da periferia: preta. Também deu voz à uma juventude silenciada e violentada, seja por meios truculentos ou pelo completo descaso, abandono do governo. Em “Racionais: Das Ruas de São Paulo Pro Mundo” conhecemos a história dos músicos, mas também do despertar cultural e político de toda uma geração.

Adaptado da novela de Javier Cercas, “O Autor” disseca as misérias com que todo escritor (ou aspirante a escritor) se depara em algum momento da vida, para não dizer pelo menos uma vez por dia — a depender da regularidade de sua produção. Lançado em 2017, o filme de Manuel Martín Cuenca assume a ponto de vista de um homem comum que se descobre dono de uma aptidão espantosa: manipular as pessoas. A partir dessa descoberta, Álvaro — um dos trabalhos mais viscerais de Javier Gutierrez, Goya de Melhor Ator pelo papel —, um notário de quarenta e poucos anos abandona o emprego e decide investir nesse dom inusitado.

Há quem enverede pelo lado mais obscuro da estrada com tanto gosto que passe a achar-se verdadeiramente credor de tudo o que o mundo tenha a oferecer para que se escape ao tédio. É este o caso da antimocinha de “Violence Action” (2022), live-action do famoso mangá de mesmo nome dirigido por Tōichirō Rutō.