O romance que arrecadou milhões nas bilheterias e foi promovido a clássico cult está na Netflix Gaumont / Columbia Tristar Film

O romance que arrecadou milhões nas bilheterias e foi promovido a clássico cult está na Netflix

Parece clichê dizer que “Closer: Perto Demais”, filme de 2003 de Mike Nicholls, segue a premissa da liquidez das relações de Zygmunt Bauman, e é. Mas não deixa de ser verdade. Quando lançado, há quase 20 anos, foi alvo de críticas e elogios, mas principalmente elogios, porque finalmente alguém retratava os relacionamentos amorosos de maneira menos romântica e utópica nos cinemas. A intenção de Nicholls, ao adaptar a peça de Patrick Marber, era dar um tom de realismo aos romances. Não chegou exatamente lá, mas ofereceu ao público um interessante olhar sobre a ferocidade e crueldade da natureza humana.

Se você até hoje não assistiu “Closer: Perto Demais”, que fique claro que este não é um filme de suspense ou violência, mas não deixa de assustar e de chocar. Apesar dos diálogos inteligentes, o linguajar é agressivo, sujo, ofensivo. Nicholls desafia o politicamente correto e chega a ser machista ao retratar mulheres como objetos de prazer em jogos sexuais de homens cruéis. Enquanto eles controlam as relações, as mulheres parecem frágeis e impulsivas, mas algumas vezes também tóxicas e egoístas.

No enredo, o filme de Nicholls narra a história de dois casais: Dan (Jude Law) e Alice (Natalie Portman) e Larry (Clive Owen) e Anna (Julia Roberts). Dan escreve obituários em um jornal e Alice é uma jovem que acaba de escapar de um relacionamento em Nova York. Eles se apaixonam após um encontro inesperado em que Alice é atropelada por um táxi. Um ano mais tarde, Dan escreveu um romance e sua foto de capa do livro é tirada por Anna, que se relaciona com o médico Larry. Com o passar do tempo, as relações se derretem como uma vela acesa e o acaso faz com que Dan e Anna tenham um caso e, também, que Larry e Alice se envolvam de alguma forma.

É difícil acreditar que mulheres com substância com Alice, que claramente vivenciou muitos traumas em relacionamentos, e Anna, que é tão intelectual e independente, se deixem ser usadas a bel-prazer em jogos de poder masculinos, porque no fim das contas, é disso que se trata: Dan e Larry se vingando pelo outro ter relacionado com a mulher que supostamente amavam. Também parece pouco razoável que as pessoas se relacionem simplesmente para distribuir atos de crueldade e ferir uns aos outros, como ocorre em “Closer: Perto Demais”.

Ao mesmo tempo, a produção, em 2003, inovou em oferecer uma nova linguagem de romance. Em mostrar ao público que existe um complexo emaranhado de sentimentos que fazem um relacionamento amoroso, não apenas o amor, mas às vezes, a frustração, a mágoa, a raiva, a decepção e o desejo. E que o “felizes para sempre” não é o ponto final dos romances, mas uma reticência, porque depois dele, vêm as histórias, a convivência, o compromisso, a estrada. E essa estrada dificilmente será livre de buracos e pedras.

“Closer: Perto Demais”, pode não ser tudo que idealizamos, mas é um pouco do que precisamos para descer de nossa doce nuvem de ilusão sobre o amor. Em 2003 não discutíamos sobre responsabilidade afetiva e o enredo do filme relativiza justamente a irresponsabilidade. Mas assim é a arte: toma diferentes sentidos em diferentes eras e nos desperta neuroses, críticas e reflexões. Nos dias atuais, assisti-lo é um bom exercício de consciência, uma forma de analisarmos nosso próprio nível de canalhice e revermos nossa concepção particular de ter razão em um relacionamento. A produção é um novo clássico dos romances e mostra que o amor pode ser tão amargo quanto doce.


Filme: Closer: Perto Demais
Direção: Mike Nicholls
Ano: 2003
Gênero: Romance/Drama
Nota: 9/10