Último longa-metragem de Satoshi Kon antes de sua morte, em 2010, “Paprika” é uma das animações japonesas mais conceituadas e aclamadas de todos os tempos. O filme inspirou produções como “A Origem”, de Christopher Nolan, e “Sonhos Lúcidos”, de Jun-sung Kim, abordando teorias freudianas sobre sonhos e a maneira como eles se elaboram pela condensação de fragmentos e associações que revelam nossos medos, traumas ou desejos inconscientes e reprimidos.
Por sua vez, Satoshi Kon se baseou no livro homônimo de Yasutaka Tsutsui, publicado em 1993. A história também ganhou duas adaptações em mangá. A primeira foi criada por Reiji Hagiwara, em 1995, mas lançada apenas em 2003; e a segunda por Eri Sakai, em 2007.
Há diversas cenas em “A Origem” que são praticamente a exata reprodução em live-action da animação de Satoshi Kon. Cheio de alegorias, metalinguagens e representações visuais surreais, “Paprika” é um filme denso, complexo e psicodélico.
Seu enredo gira em torno de Chiba (Megumi Hayashibara), Tokita (Tôru Furuya) e Shima (Katsunosuke Hori), três cientistas que trabalham na Fundação para Pesquisa Psiquiátrica. Eles desenvolvem um dispositivo chamado DC Mini, que possibilita que pessoas compartilhem sonhos enquanto estão dormindo. O aparelho serve para tratar traumas e cuidar da saúde mental de pacientes. É Chiba que adentra os sonhos dessas pessoas na forma de Paprika para investigar. Como o dispositivo ainda não é regulamentado, deve ser usado unicamente para testes dentro da Fundação. Há questões éticas envolvidas no processo e cuidados que precisam ser tomados para que as coisas não saiam do controle e realidade e sonhos se misturem.
Quando o DC Mini é roubado por um ladrão misterioso, eles precisam correr contra o tempo para descobrir quem é o criminoso e recuperar o dispositivo. O trio irá contar com a ajuda do investigador Kogawa Toshimi (Akio Ôtsuka), que também se envolverá nesse emaranhado de cenas misteriosas e fantásticas.
Satoshi Kon contou em uma entrevista que quando leu “Paprika” pela primeira vez, sentiu imediatamente uma conexão com a história e soube que os destinos de ambos estavam entrelaçados. Em 2003, ele conheceu pessoalmente Tsutsui e pediu sua bênção para transformar a obra em animação. Segundo Kon, ele jamais teria levado a história para as telas sem que seu criador o desse completa aprovação.
O filme de Kon mais tecnologicamente elaborado, “Paprika” usa e abusa de efeitos de CGI, misturando o analógico e o digital, e foi o primeiro longa do diretor com exibição em 3D nos cinemas, algo que ele gostaria de ter reutilizado em projetos futuros. Uma de suas inspirações para navegar através dos inúmeros absurdos que testemunhamos na trama é “Brazil”, filme de Terry Gilliam, conhecido por integrar a equipe de Monty Python.
Kon havia declarado, durante o lançamento deste filme, que pretendia se dedicar, posteriormente, a mais produções voltadas para o público infantil, o que infelizmente nunca aconteceu, já que Satoshi Kon faleceu poucos anos depois de câncer no pâncreas.
Filme: Paprica
Direção: Satoshi Kon
Ano: 2006
Gênero: Animação / Drama / Fantasia
Nota: 10/10