“A Promessa”, vista através da ironia, traz à tona um paralelo entre Jack Nicholson e Jerry Black, o papel central da obra de Sean Penn. Ambos possuem trajetórias notórias que foram construídas à margem da atenção dada às estrelas contemporâneas, tiveram seus impactos na sociedade e se afastaram do público. A trama, escrita por Friedrich Dürrenmatt, Jerzy Kromolowski e Mary Olson-Kromolowski, convoca Black a regressar ao seu meio habitual. Nicholson imprime ao seu papel um misto de drama, cinismo, astúcia e humor, que sustentam a evolução da narrativa.
A solidão, já aguda e em ascensão de Black, é ainda mais intensificada pela sua desvinculação do Departamento de Polícia de Nevada, à medida que a conclusão do filme se avizinha. Penn emprega vários instrumentos para evidenciar o compromisso do detetive com sua profissão, retratando seu personagem em uma reclusão acentuada em vários contextos. Seja em um entorno desértico ou pescando em uma cabana à margem de um lago congelado, a solidão de Black é evidente. O clima frio do oeste americano não é o que faz o papel de Nicholson interromper seu descanso e regressar ao distrito policial, um prolongamento de sua própria desordem interna, onde ele se tornou uma figura lendária ao longo de três décadas. Ele compreende que, doravante, terá muitos dias de indefinição de propósito e excesso de autorreflexão.
Ao iniciar o próximo segmento, um delito enigmático desperta o interesse de Black. Annalise Hansen, a professora de piano interpretada por Vanessa Redgrave, perde a neta, Ginny, vivida por Pauline Roberts. A ligação entre estes dois personagens feridos é notória. As conversas entre o detetive e a musicista, recheadas de sofrimento e humor, geram um contraste acentuado que agrega valor à obra. Black recorre às suas competências de pescador para apanhar o assassino de Ginny, tornando-se seu novo motivo de existir. Contudo, sua paranoia conduz à sua ruína.
Filme: A Promessa
Direção: Sean Penn
Ano: 2001
Gêneros: Thriller/Mistério/Drama/Crime
Avaliação: 9/10