Um filme sobre juventude e delinquência, “As Leis da Fronteira” é um filme de Daniel Monzón e Jorge Guerricaechevarría, baseado no romance homônimo de Javier Cercas. A história se passa em Girona, na Espanha, durante o verão de 1978. Um garoto tímido e bonzinho, Ignacio Cañas, vulgo Nacho (Marcos Ruiz), não tem amigos e passa seus dias jogando arcade. Ele gasta tanto tempo na casa de jogos, que se torna amigo do dono, que o oferece um emprego no lugar.
Quando Nacho conhece Tere (Begoña Vargas), imediatamente se sente atraído pela garota rebelde, que anda sempre acompanhada de seu colega Zarco (Chechu Salgado). A dupla de encrenqueiros atrai Nacho para um bar em Chinatown, onde o apresentam ao seu grupo de amigos marginais. Os adolescentes planejam roubos, assaltos e golpes, usam e vendem drogas ilegais e não gostam de seguir absolutamente nenhum tipo de regra. Logo Nacho é recrutado para fazer parte da gangue.
A experiência faz com que o garoto saia de seu casulo e amadureça. Aquele fatídico verão, ao som da disco e sob influência de drogas, o menino de família ultrapassa os limites que conhece, se apaixona, beija, faz sexo pela primeira vez, viaja para a praia, rouba pessoas e se sente parte de um grupo. Ele se sente corajoso, descolado e independente. Os dias são inesquecíveis, as lembranças que vão se construindo são incríveis, douradas e cheias de aventura. Tudo que acontece com ele irá mudar sua percepção da vida para sempre. Mas o crime quase nunca compensa e a Justiça, assim como o destino, começa a cobrar esses jovens por suas ações.
Nacho pode até parecer uma ovelha perto de seus amigos lobos, mas quando as coisas apertam, é o garoto que tem estrutura familiar, condições financeiras e privilégios, enquanto os outros são jovens pobres, sem estudos e socialmente desamparados.
“As Leis da Fronteira” é um filme sobre como as coisas funcionam nas ruas. O garoto que tem que se tornar homem, ser mais malicioso e rebelde para sobreviver e se adaptar ao grupo de delinquentes. Mas o título também é uma alusão sobre a Justiça e como ela é seletiva. O sistema se aplica a alguns, mas outros se mantém acima dele.
Décadas mais tarde, a vida de Nacho toma um rumo completamente diferente da de seus companheiros. Enquanto uns morrem ou são presos, o garoto se torna um advogado. O paradoxo reforça que a corda sempre arrebenta para o lado mais fraco e, no caso dos crimes, não é sobre quem é mais mau, autoritário, experiente ou rebelde, mas sobre classe social.
Enquanto tece sutis comentários sociais, que nem sempre são críticas, afinal, parece mesmo que o diretor acredita que Nacho merece mais chance que os outros, acompanhamos uma aventura juvenil veranesca deliciosa e sensual, divertida e interessante.
Monzón contou em uma entrevista que quando leu o livro de Cercas, a história se fixou imediatamente em sua mente e, a partir de então, ele começou a pensar em como transformar aquilo para as telas. Um dos maiores desafios era o de encontrar um elenco que não apenas parecesse com os três personagens centrais, Nacho, Tere e Zarcos, mas que fosse uma espécie de encarnação deles. Ruiz, Vargas e Salgado eram a materialização desse trio, representando a vulnerabilidade e doçura de Nacho, a energia fulgaz e étnica de Tere e a presença enérgica de Zarcos.
Filme: As Leis da Fronteira
Direção: Daniel Monzón
Ano: 2021
Gênero: Aventura/Policial/Romance
Nota: 7/10