Trigésimo segundo (32º) livro lido, em 2023: “A Invasão do Povo do Espírito”, do mexicano Juan Pablo Villalobos. Em poucas palavras: como fez em “Ninguém Precisa Acreditar em Mim”, Villalobos constrói um mundo absurdo, refletindo sobre temas polêmicos e utilizando o humor como arma, mas sem permitir que esse recurso se sobreponha à narrativa. Tudo é sutil, até mesmo o que é explicito: a corrupção, a xenofobia, a gentrificação, a homofobia…
Gaston e Max são dois velhos amigos que vivem em uma península, anos depois do mundo ter passado por um processo de colonização. Obrigado a ter que devolver o imóvel (que foi vendido aos orientais, que já compraram metade da península), onde mantém um restaurante, há 30 anos, Max entra em um processo depressivo e passa os dias jogando no celular. Em paralelo, o filho de Max, um biólogo recém-formado, volta para casa, depois de fugir (e roubar) um experimento secreto que envolve extraterrestres e investimentos milionários. Esse núcleo básico narrativo cria uma dezena de tramas paralelas, envolvendo conspiracionistas, especuladores imobiliários, místicos, parentes oportunistas, um jogador de futebol e um cachorro que se chama Gato…
A sutileza está presente em cada página. O cinismo parece ser o alvo constante de Villalobos.
“Você tem filhos? Gastón diz que não. É casado? O pai do melhor jogador da Terra se desculpa por sua indiscrição, diz que não há problema, que não tem do que se envergonhar, que ele só não esperava isso de um agricultor, que antigamente era coisa de cabeleireiros, de gente de teatro, de costureiros, mas que não precisa se preocupar, pois agora felizmente são outros tempos.”
Um livro divertido, brilhante, cheio de graça e afeto, no qual as considerações e apontamentos do narrador-observador são tão emblemáticas quanto a dezena de tramas que se entrecruzam: “Estamos cansados de histórias de ressentidos, estamos fartos de enaltecer o rancor e as frustrações”.
Livro: A Invasão do Povo do Espírito
Autor: Juan Pablo Villalobos
Tradução: Sérgio Molina
Páginas: 224
Editora: Companhia das Letras
Nota: 10/10