Diamante perdido na Netflix é o filme perfeito para os apaixonados por livros Aidan Monaghan / Capelight Pictures

Diamante perdido na Netflix é o filme perfeito para os apaixonados por livros

Baseado no livro homônimo de Penelope Fitzgerald, “A Livraria” é um filme de Isabel Coixet, que se passa em uma cidade conservadora da Inglaterra, chamada East Anglia, em 1959. Florence Green (Emily Mortimer) é uma viúva apaixonada por literatura e que decide abrir uma livraria em uma charmosa casa antiga da pequena vila costeira. Ela jamais imaginaria que realizar seu sonho poderia causar tamanha revolução.

O imóvel havia ficado vazio durante anos, embora fosse objeto de desejo de uma dama influente local, chamada Violet Gamart (Patricia Clarkson). Para ela, o lugar deveria ser um centro cultural, mas talvez o projeto só tenha se tornado importante para ela depois de a chegada de Florence colocar em risco sua influência sobre a cidade.

A loja mobiliza a vila, que não tem uma livraria há anos. Uma das obras que Florence investe é “Lolita”, de Vladimir Nabokov, que leva uma multidão para sua vitrine. Mas o livro é completamente o oposto da cidade, é moderno, sensual e livre. Há uma preocupação de Violet de que o lugar perca suas tradições e conservadorismo e, que assim, sua estrutura de poder também seja alterada, dando espaço para o novo.

Mas Florence está motivada e é destemida. Ela poderá contar com a ajuda bem-vinda de uma pequena e inteligente funcionária, Christine (Honor Kneafsey), o conselheiro pouco confiável Milo North (James Lance) e o viúvo recluso Edmund Brundish (Bill Nighy). Apesar dos amigos, a oposição de Violet será agressiva e desonesta e contará com o apoio de muitos moradores da cidade.

Embora embrulhado em um drama romântico e cativante, o filme de Coixet tem mais a agregar que apenas uma história sobre uma mulher que quer ter uma livraria. O longa-metragem traz uma mensagem de rompimento com o passado. Afinal, Florence é viúva e nunca seguiu em frente com sua vida desde a morte de seu marido, por quem era apaixonada. A livraria simboliza sua quebra do luto e o início de uma nova vida. Ao mesmo tempo, a loja também representa o rompimento de East Anglia com o passado, com a tradição de uma sociedade desinteressada e desinformada, com a descentralização do poder nas mãos de uma elite privilegiada, que tem acesso ao conhecimento e à cultura, mas não deseja que os cidadãos comuns tenham este mesmo acesso.

O enredo mostra como as classes superiores conseguem manipular as leis, a máquina administrativa e até as notícias, tendo em vista que a própria população é levada a acreditar em informações equivocadas sobre Florence, a livraria ou os livros que vende. Mas em meio à trama agonizante de luta, de amizade, de persistência e tudo mais, o espectador ainda é premiado com as delicadas e sensíveis atuações de Mortimer e Nighy, além da bela fotografia que mistura tons frios e quentes de Jean-Claude Larrieu, que acompanha as belíssimas paisagens do interior da Inglaterra, com cenários naturais e construções centenárias e, talvez, milenares.

A cor do filme transmite o calor da paixão de Florence pela literatura, mas também a frieza que quem insiste em derrubá-la. A trilha de Alfonso de Vilallonga   embala as cenas bonitas e dramáticas, conduzindo o espectador pelas emoções da protagonista. Uma ode à literatura e à amizade, “A Livraria” é um belo filme que vai acalmar as ansiedades do seu coração.


Filme: A Livraria
Direção: Isabel Coixet
Ano: 2017
Gênero: Drama
Nota: 8/10