Último dia para assistir ao filme mais brutal e violento do catálogo da Netflix Divulgação / Lionsgate

Último dia para assistir ao filme mais brutal e violento do catálogo da Netflix

Parece óbvio, mas para cada filme existe um público específico, ainda que, como também pode-se deduzir que haja filmes que, por mais aparentemente segmentados, avançam sobre essa pretensa regra e a subvertem sem pena. Scott Wiper pode até não ser o primeiro nome que vem à cabeça do espectador quando se precisa mencionar um ou dois filmes do cinema macho, mas a produção do diretor é das mais elaboradas do gênero.

“Os Condenados” tem muito dos cacoetes habituais nesses filmes; no entanto, Wiper encontra formas perspicazes quanto a contornar lugares-comuns numa história, goste-se ou não, das mais inventivas em produções que tais. Aqui, as angústias fundamentais de um homem passam por meros números de um espetáculo hediondo, sinistro, que ganha cores ainda mais aterrorizantes conforme a esse personagem não resta alternativa senão admitir que seu orgulho é menos importante que sua liberdade. É uma escolha difícil, a exemplo de outras tantas que se deve fazer ao longo de uma vida, mas a recompensa está à altura.

A tal bomba de que falava Hitchcock permanece sob a mesa por uma eternidade. Enquanto isso, o roteiro de Wiper e Andy e Rob Hedden prepara o espectador para sutilezas incômodas, como militares em fardas muito semelhantes a do exército de Hitler durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), grades que se abrem e se fecham num estrépito e homens bestializados a se enfrentar diante de câmeras ocultas. Menciona-se um certo “José da Guatemala” o prisioneiro que deve substituir o árabe que morreu no plantel de criminosos que lutam para saciar a apetite por um entretenimento doentio, e aos poucos, se conhece a história de Jack Conrad, cumprindo pena por homicídio um presídio da América Central.

Valendo-se de sua vasta experiência quando dava as cartas nos ringues mundo afora como lutador de wrestling, Steve Austin, o Stone Cold (“pedra fria”, em tradução literal), estrela sequências de confronto físico cheias de, claro, realismo, malgrado não sinta a necessidade de mover um músculo sequer mesmo frente a rivais igualmente ameaçadores, a exemplo de Ewan McStarley, o sociopata expulso das Forças Especiais dos Estados Unidos vivido por Vinnie Jones, também um ex-atleta que fez história no futebol britânico.

O argumento central, elaborado com mais cautela quando da virada do primeiro para o segundo ato, adquire um tom distópico com a entrada em cena de Ian Breckel, a mente por trás do reality show que reúne dez assassinos cruéis, oito homens e duas mulheres — todos, por uma alguma razão sobre a qual o texto de Wiper e dos Hedden não se debruça, encarcerados em países periféricos —, numa ilha de difícil acesso. Robert Mammone dá alguma substância dramática evidenciando a desumanidade do vilão ao exigir de seus subordinados os índices de audiência com um furor implacável ao passo que os condenados lançam-se num combate de vida ou morte, mais e mais abjeto. Num movimento paralelo, Wiper erige uma subtrama meio artificiosa envolvendo o personagem de Austin e uma namorada que não levam a lugar algum.

Típico filme pipoca, feito sob medida para abreviar momentos de tédio, “Os Condenados” deu azo a uma continuação em que viver continua a ser um jogo em que a única regra é jogar. Se há algo de verdadeiramente bom aqui, é a reafirmação da inutilidade de certos programas de televisão, cirúrgicos em extrair da alma humana só o que deveria permanecer relegado ao silêncio e ao esquecimento para sempre.


Filme: Os Condenados
Direção: Scott Wiper
Ano: 2007
Gênero: Ação
Nota: 7/10