Thriller de ação na Netflix fará seu coração sair pela boca Divulgação / Sony Pictures

Thriller de ação na Netflix fará seu coração sair pela boca

Situações extremas têm o condão de pôr a descoberto a genuína natureza do gênero humano. Nesses cenários em que a vida se nos apresenta da maneira exata como cada um é capaz de suportá-la, os personagens centrais de “O Atirador Fantasma” trafegam com alguma desenvoltura, até que são colhidos por uma sucessão de novos infortúnios, cada vez mais desafiadores, ideia de que o diretor Don Michael Paul vale-se a fim de dar continuidade à narrativa de snipers forçados a trocar de lado e experimentar a incomoda sensação de ser o alvo, num movimento em que estão em jogo interesses determinantes para o futuro de gente que jamais irão conhecer. Paul trabalha o argumento do martírio a partir de atiradores de elite, homens que dependem da certeza para realizar seu trabalho da maneira mais exata possível, mas que têm de se conformar com essa mudança de perspectiva enquanto planejam retomar o comando, sem garantia de nada, driblando a morte capturando-lhe as armas que ela mesma dispensa.

“O Atirador Fantasma” é o sexto de uma série de oito filmes sobre a força de um ideal, que acaba por degringolar numa cornucópia de sentimentos confusos, paixões sem amor e, por fim, uma vingança cruenta. No primeiro deles, “O Atirador” (1993), Luis Llosa solta seus protagonistas no cenário de caos absoluto que junta rebeldes da América Central e os supostos heróis que os combatem, habilidosos artilheiros por trás das máquinas mortíferas que carregam diligentemente, como se disso dependesse sua própria sobrevivência — e depende mesmo. Duas décadas depois, o roteiro de Chris Hauty continua a deslindar os conflitos éticos de quem faz da morte seu ofício partindo da base secreta do Comando de Uso de Drones da Guarda Costeira dos Estados Unidos na Turquia. É impossível não encontrar nessas histórias algum traço de obras-primas do gênero, a exemplo de “Sniper Americano” (2015), de Clint Eastwood, talvez o filme definitivo acerca da atuação desses hospedeiros da loucura em seu estado mais fino, aparentemente tão fortes, mas à mercê de variáveis cuja interferência não podem nunca precisar. Começando por seus próprios medos.

A tumultuada introdução de “O Atirador Fantasma” mostra reféns deixando um barco, e desse ponto até o encerramento, são uma constante as cenas que mesclam o horror de se ganhar a vida sem saber ao certo momento de avançar ou deter-se um pouco mais, disparar de uma vez ou dar-se ao desfrute de ouvir a algaravia que reverbera dentro de uma mente que sofre e hesitar, poupando a vida de um possível inocente, mas arriscando a própria pele — e a sorte de todo um povo. O agente Brandon Beckett, filho do atormentado Samuel Beckett vivido por Tom Berenger no filme inaugural, condensa muito do que o diretor se propõe a contar, com Chad Michael Collins encarnando à perfeição a angústia existencial de Brandon, que não arrefece nem quando uma bela mulher cai do azul e dirige-lhe um desabrido flerte. Sorte a dele: Robin, a espiã de Stephanie Vogt, é apenas o primeiro dos tantos petardos de que escapa, e embora reste vivo para dizer como termina esse caso, o personagem de Collins passa a ter de conviver com aquelas cicatrizes de que ninguém se livra, olhadas com mais atenção por Claudio Fäh em “O Atirador: O Extermínio Final” (2017).


Filme: O Atirador Fantasma
Direção: Don Michael Paul
Ano: 2016
Gêneros: Ação/Aventura
Nota: 8/10