Ganhador do Oscar, filme na Netflix é uma aula de história e um pequeno diamante do cinema Jack English / Weinstein Company

Ganhador do Oscar, filme na Netflix é uma aula de história e um pequeno diamante do cinema

A sinopse de um filme parece não oferecer nenhuma charada. Seus dados são explícitos: Keira Knightley e Benedict Cumberbatch estão em “O Jogo da Imitação”, de Morten Tyldum, roteiro de Graham Moore e Andrew Hodges (que fez o livro).  O computador nasce da contraespionagem britânica na Segunda Guerra, segredo guardado por 50 anos. Uma produção de 2014 que está ganhando novamente destaque na Netflix.

Qual o segredo desse filme que o espectador precisa decifrar? A história de um grupo de especialistas em criptografia que são convocados para decifrar as mensagens de guerra dos alemães e um deles, o gênio Alan Turing cria uma máquina capaz de resolver o que está oculto em milhões de possibilidades. Não existe um caminho conhecido para enfrentar o código da máquina Enigma.

A máquina de Turing conseguiu a façanha, participou das estratégias da guerra e com as pesquisas posteriores gerou os computadores.

Turing se suicidou em 1954 por ter sido obrigado a fazer castração química para escapar da cadeia. Na época, homossexualidade era crime.

Uma história secreta de espionagem numa guerra mundial envolvendo um professor de matemática que permaneceu na obscuridade está bem amarrada com flashbacks, trechos de documentários e os dramas pessoais do grupo.

Mas ao reportar o evento o filme usa as cenas-chave, que ao serem idênticas a outras produções seguram a narrativa nos limites do cinema. Pois não se trata de alta matemática, mas de um thriller dramático em que a emoção, a traição, o preconceito se encadeiam num crescendo de situações que representam os fatos enfocados.

Um exemplo é a sequência em que Turing tem um insight numa festa ao conversar com a amiga que decifrava mensagens românticas de um alemão por meio de uma palavra-chave. Ele sai correndo em direção à sua máquina que ainda não tinha solucionado a charada. A palavra repetida economizava infinitas horas de funcionamento.

Claro que isso é uma solução cinematográfica e não uma reportagem. Uma festa não tem esse poder, só o cinema. Pois esses recursos usados com competência não possuem o ranço da repetição, mesmo que estejamos acostumados com o mesmo expediente.

O confronto de egos tem obedecido a esse ringue recorrente em inúmeros filmes. Começa com briga e termina em abraço.

Esses momentos, soluções conhecidas, são como notas musicais: se repetem, mas criam espaços na narrativa tornando-a encantadora e não uma maçaroca de informações técnicas. Essa é a chave do enigma.


Filme: O Jogo da Imitação
Direção: Morten Tyldum
Ano: 2014
Gêneros: Guerra/Drama
Nota: 9/10