Seríamos nós os herdeiros de Judas?

Seríamos nós os herdeiros de Judas?

Hoje, 22 de abril, é o Dia da Terra, que coincide com o dia do descobrimento do Brasil. Aliás, o Brasil, e por extensão, a Terra, estão extremamente maltratados pelo nosso estilo de vida. O Dia da Terra, criado em 1970 nos Estados Unidos, tem por finalidade conscientizar as pessoas sobre os problemas da contaminação, da preservação da biodiversidade e sobre os riscos de esgotamento do planeta. Enfim, sobre o risco de um colapso do suporte da vida, que é o meio ambiente.

No entanto, por incrível que pareça, ao invés de maneirarmos a mão sobre o uso que fazemos do bioma, estamos turbinando cada vez mais a nossa indústria de estragos. Num crescimento exponencial de tudo aquilo que a ciência diz que levará o planeta à bancarrota: contaminação das águas, desmatamento, lançamento de gás estufa, destruição da biodiversidade.

A questão é que nutrimos uma crença quase religiosa de que soluções mágicas nos serão oferecidas. Sejam pela ciência, sejam pela própria natureza. Estamos naquele estágio de pensamento de Judas Iscariotes. Sendo Judas o tesoureiro do grupo de Jesus, e tendo visto seu líder operar milagres em suas andanças, logo concluiu que poderia entregar Jesus à polícia de Pôncio Pilatos a troco de moedas de prata. Seu pensamento era simples e bem intencionado: com a delação, resolveria seu problema de caixa. Como Jesus era quem dizia ser e já teria dado provas de seus dons, até ressuscitando mortos, e quem pode o mais pode o menos, com qualquer uma destreza menor do chefe eles se safariam dos perseguidores e iam bater noutras freguesias. Agora remonetizados. Mas o milagre não veio, pelo menos do jeito que Judas esperava e ele se ferrou. Entrou para a crônica do Cristianismo como o sumo traidor.

Talvez nós estejamos fiados nos prodígios da ciência, da natureza ou mesmo de Deus. Que podemos converter os equilíbrios da terra em dinheiro e bens de consumo com seus lixões infinitos. Estamos crentes de que no final um milagre nos socorrerá. Portanto, mirem-se no exemplo de Judas, que converteu sua fidelidade em trinta dinheiros.

Outra superstição que nos acalenta é a de que o colapso da natureza estaria num futuro bem distante. E quando isso vier a acontecer, a ciência já terá descoberto algum planeta de clima semelhante ao nosso e pra lá poderemos migrar, levando nossa empresa e nosso estilo de vida. E assim a civilização humana poderá expandir-se indefinidamente. Porque já teríamos adquirido o Know-how para a transmigração em massa e em série.

Ocorre que a probabilidade (se é que ela existe) de sermos achados por civilizações do espaço é infinitamente maior do que nós encontrarmos uma. Pois somos um planeta apenas diante de bilhões que existem pelo o universo afora, sendo muitos deles mais antigos e, se habitados por civilizações tecnológicas, já estariam num processo mais adiantado que o nosso.

Assim, antes que a gente alçasse voos pelo  universo afora, numa saga desesperada para espalhar nossa descendência, eles nos colonizariam. Assim como fizeram os europeus no século 16, que descobriram as Américas e submeteram e dizimaram os nativos. E os que sobreviveram foram reduzidos a ninguém.