Para silenciar o ódio é preciso encarar a si mesmo. Somente os covardes odeiam

Para silenciar o ódio é preciso encarar a si mesmo. Somente os covardes odeiam

Peguei meu celular e quase tive um treco. “Idiota”. “Burra”. “Otária”. Um dia antes, tinha deixado minha opinião em um texto político publicado no Facebook; como tantas outras pessoas que, educadamente, também deixaram. E, enquanto lia os vários comentários a respeito daquele texto e o enorme bate-boca entre internautas que nem devem se conhecer, passei a sentir um desânimo danado.

Resolvi sair da internet e vim escrever esse texto. Decidi viajar, solitariamente, por essas linhas que nascem das pontas dos meus dedos, para abafar algumas vozes que sussurram escondidas nos cantos do meu labirinto interno. Escrevo porque preciso acreditar que uma das melhores qualidades do ser humano é a sua capacidade de mudar. Mudar de conceitos e opiniões; amadurecer; evoluir. Quero realmente acreditar nisso. Como quero ser a protagonista do romance que estou lendo, aquela que escala montanhas, salta precipícios e derrota seus medos.

Também quero ser a cotovia que foge da gaiola; ser forte o bastante para suportar minhas mortes diárias; quero ser tolerante. Quero reconhecer minhas ignorâncias. Quando ignorada, quero ser a melodia soprada da flauta doce para ganhar o ar e sumir dos ouvidos odiosos; quero ser a poesia que surge com a chegada do silêncio, aquela que fascina mesmo quando não é compreendida; como as primeiras lições de filosofia que lembramos e que nunca entendemos de verdade.

Ah, eu quero ser aquela menina que nunca perdia a ternura; que acreditava em finais felizes; que sentava à janela durante horas para ouvir os canários do vizinho; que plantava pés de feijão no jardim da casa; que tinha medo de monstros, mesmo sabendo que eles não existiam. Quero acreditar que, às vezes, a vida que não planejei pode ser o melhor caminho.

Quero parar de pensar no azedume que envenena as relações humanas — e que são as próprias pessoas que cultivam sentimentos azedos. Hoje, não quero sentir raiva do meu vizinho porque ele não recicla o lixo. Não quero a sensação de vazio quando falo bom dia para a moça que estaciona, todos os dias, o carro dela ao lado do meu e ela finge que não ouviu.

Não precisamos fingir que está tudo bem quando lemos notícias que nos fazem pensar não haver mais esperança para o ser humano. Também não precisamos gostar de tudo, temos o direito de ter opinião. Então vamos dialogar, debater, discordar sem humilhar. Porque a razão nunca poderá ser mais importante do que a humanidade daqueles de quem discordamos.

Espero que não percamos a sensibilidade e nem abandonemos a gentileza. E não importa o que está acontecendo aqui dentro ou lá fora, não é agredindo outra pessoa que os problemas se resolverão. Já basta esse mundo de desamor que estamos vivendo. Já chega de pessimismo e amargura. Por isso, o que chegar de ódio até nós, não será repassado para frente.