Na copa da Rússia, se dermos sorte será por azar

O relacionamento da Seleção Brasileira com a Copa da Rússia está cravejado pelo número 4, que é um símbolo funesto e que pode, apesar de toda a preparação e favoritismo, levar a Seleção Canarinho à ruína e ao esfacelamento, antes do êxtase de botar a mão na taça do hexa.

A numerologia aziaga começa com o epíteto do treinador de nossa Seleção: Tite, que, além de ser composto de 4 letras, ainda rima com todas as manifestações infecciosas, como cistite, bursite, sinusite, pancreatite. As alcunhas de 4 letras costumam ser irresistíveis como as intempéries e fatais como as tragédias por acidente.

O fatalismo bipolar do número 4 (além de seus múltiplos e agregados) permeia o destino inteiro da nossa seleção. O 4 é a representação numérica do quadrado e também da cruz. A junção dos dois aspectos do número 4, quadrado e cruz, foi cristalizada pelos cristãos do Gammadion: a cruz dentro do quadrado, e em cada um dos 4 cantos, um animal representativo dos 4 evangelistas.

Portanto, o numeral 4 representa a dinâmica do quadrado, segmentado pela cruz que, no reverso simbólico, busca o antidinâmico, a interrupção, o antecipadamente retido, a ruína como a fruta pêca (apodrecida no cacho). O 4 apensado ao 0 (zero) simboliza os 40 anos de cativeiro dos Hebreus no Egito, os 40 dias e 40 noites de tentação e provações de Cristo no deserto e, sobretudo, os 40 ladrões de Ali Babá.

O paradigma mais presente na memória do brasileiro dessa manifestação bipolar do número 4 está estampado na carreira política do ex-presidente Lula (4 letras) e seu Partido dos Trabalhadores, iconizado pelo número 13. Número tido ao mesmo tempo como auspicioso e azarento, sendo que a razão verdadeira se dá pela soma de seus algarismos 1+3=4. Tantalizado pelos efeitos obsessores do número 4, Lula chegou ao píncaro do poder, com vitórias expressivas sobre os adversários e aceitação quase unânime nas pesquisas de opinião, mas quando o efeito do 4 quadrado passou para a influência do 4 cruz, sua carreira atravessou o limiar da sorte e entrou na cruz do inferno astral. O mesmo se deu com seu partido, com o destino atrelado, tanto à filiação do líder, quanto à coincidência obsessora do número 4.

Outra façanha aziaga do número 4, ainda fresca na lembrança da cultura pop, está o caso dos Beatles, os 4ever garotos de Liverpool, que foram catapultados ao sucesso desmedido, e quando se pensavam mais afamados do que Jesus Cristo, veio a fase depressiva do 4 e o grupo dissolveu-se numa ruína acachapante, de tal forma que ninguém jamais pôde explicitar racionalmente as causas de tamanha débâcle.

Além do epíteto do treinador Tite estar medularmente entranhado pelas influências, para o bem e para o mal, do número 4, a adição das palavras que mais serão ouvidas com relação ao certame esportivo serão “Brasil e Rússia” totalizando 13 letras: 1+3=4.

No dia 8 (=2X4) de fevereiro deste ano, a FIFA (4 letras) autorizou o técnico brasileiro a escolher os 35 ( 3+5=8 = 2X4) pré-selecionados, tendo até o dia 4 de junho para apresentar os nomes definitivos, em número de 23. O 23 (2+3=5) é um número fora da curva que, à primeira vista, poderia parecer um sintoma salvador. Porque o 5 representa a soma do primeiro número par (2) com o primeiro número ímpar (3), e está no meio dos 9 primeiros algarismos, e é o centro de harmonia da cadeia numerológica básica, além de ser representativo dos 5 sentidos, do homem de braços abertos ou Vitruviano de Da Vinci, e tantas outras simbologias de agouros positivos. No entanto, como restou demonstrado pelos guardiões do 5º Círculo, esta conjectura é enganosa. O 5 tem o viés subjacente do sobejamento do 4, em sua simbologia positiva do quadrado, sendo aí o efeito semelhante ao do 4 quando transfigura do quadrado para cruz.

A soma das letras do nome de Neymar Júnior, o atleta em quem depositamos nossa maior esperança, consta de 12 letras, que é múltimo de 4. A soma dos nomes dos 23 jogadores selecionados dá número múltiplo de 4 (deixo de apresentar a equação para não tornar o texto ainda mais chato). A duração da Copa será de 31 dias, um 13 em anagrama (3+1=4) com resultados desastrosos potencializados pelo disfarce, sendo que o Brasil inicia no dia 17 (1+7=8), um 4 de maus agouros dobrados.

É conveniente manter-se alerta. Ao perder a Copa da Rússia, o Brasil completará 20 anos de frustrações. Um fenômeno temido desde os antigos sábios da Macedônia, de Alexandre, o Grande, que é a Quadratura do Círculo: o equivalente ao primeiro número redondo múltimo de 4.

O número 4 é, na verdade, o número dos números, em termos simbológicos. Nas duas maiores economias do mundo, o 4 é tratado com deferência abominatória. Na China, os edifícios não têm o andar de número 4 e nos Estados Unidos, o de número 13 (1+3=4).

Enfim, o 4 é um número tão pérfido e malfadado que pode dar azar até ao próprio azar. E se numa dessas, por azar, o Brasil sagrar-se campeão e botar a mão na taça do hexa, o azar do 4 será da torcida verde-amarela que, distraída pela façanha futebolística, permanecerá por mais tempo ainda de 4, ante a crise de ética da política nambiquara.