Faça um acordo com o tempo: viver é recomeçar

Faça um acordo com o tempo: viver é recomeçar

Eu tinha 9 anos quando participei de um acampamento de férias. Os tutores reuniram todas as crianças para ver as estrelas no céu. Lembro-me da expectativa que criei, durante todo o dia, para que chegasse a noite. Mas a alegria que eu sentia ao olhar aquela luz intensa e bonita pelo telescópio foi surpreendida por um dos adultos: “a estrela que você está vendo é o passado”.

Naquela noite, aprendi o conceito de ano-luz (distância percorrida pela luz em um ano). Fiquei inquieta ao saber que a visão que se tem de uma estrela no presente corresponde ao que ela foi no passado. Porém, eu já tinha dado nome à “minha” estrela. Menina que era, de cabelos longos, sardas no nariz e maçãs do rosto, descobri a dor da desilusão: a minha estrela poderia estar morta.

Três décadas depois daquele acampamento de férias, o céu estrelado ainda mexe comigo. Ora ele é apenas inspiração para os meus textos, ora ele me traz uma saudade que não consigo esquecer; como certa noite, em alguma mesa perdida de bar de esquina, quando o amor foi embora.

É que viver tem dessas coisas: às vezes, perdemos algumas oportunidades que passam pelos nossos olhos e coração; então, relacionamentos acabam e amizades são desfeitas. Ficamos, portanto, separados pela eternidade do que não foi ou do que nunca mais será.

E como toda vida que segue, as meninas de cabelos longos se tornam mulheres que se adaptam melhor ao corte Chanel e apagam suas sardas com laser e cosméticos. Tornam-se pessoas que preferem a solidão às estrelas que não podem tocar. São essas pessoas que se inspiram em fotografias rasgadas, alegrias perdidas e flores despedaçadas. Tudo isso para transformar percalços em algo bom e bonito.

Mas a vida tem um compositor de destinos — o tempo —, o grande maestro de tudo: e se as estrelas no céu estiverem vivas e enviando uma luz que ainda não chegou para você? Num estado de pânico contido, certa inquietude e inspiração, o tempo é capaz de mudar a nós mesmos e nos mostrar que a esperança ainda tem olhos de menina.

Há quem ache que o amor acaba; mas também há aqueles que afirmam que, se acabou, é porque não era amor de verdade. Talvez… Talvez o amor não acabe mesmo; mas, às vezes, ele precisa ir embora para poder voltar, pois alguns términos são apenas o recomeço. Deve ser esse o verdadeiro significado daquele versículo bíblico: “o amor tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.

E o que o retorno do amor tem a ver com as estrelas no céu?

Aqui, enquanto escrevo este texto, sentada à minha mesa sob a janela, espio o céu noturno que enfeita a vida lá fora. Todo ponto brilhante que representa o passado, com as lembranças bonitas do que já foi, também é o futuro daquilo que não posso tocar nem sentir — ainda.

Eis a grande virtude do amor: a paciência. “Permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.” Porque amar é uma espera tolerante — mesmo que muitas vezes incompreendida. É a esperança de ver “aquela” estrela brilhar outra vez.