Sei que sentirei saudade, mas preciso dizer adeus

Sei que sentirei saudade, mas preciso dizer adeus

Viajei para visitar minha irmã e sua família, que moram em outro estado. Foi um final de semana especial. Brinquei com meu sobrinho de 4 anos, embalei o sono da minha sobrinha recém-nascida e fiquei horas colocando o papo em dia com os adultos. O mais engraçado é que foram várias semanas esperando por esse encontro e, quando percebi, já estava embarcando de volta para minha casa.

Irmãos não deveriam morar tão longe uns dos outros. Nem pais e filhos, nem amigos e amores. Mas acontece que a vida tem dessas coisas: seja qual for o motivo, sempre haverá alguém partindo. Tem a irmã que mora a quilômetros de distância. O melhor amigo que está trabalhando em outro país. O pai que se divorciou e tem uma nova família. O namorado que se mudou para longe.

São muitas as histórias de despedidas e ausências. As saudades se repetem todos os dias em aeroportos, rodoviárias e domingos à noitinha. Meu sobrinho me perguntou quantas noites ele teria que dormir para me ver outra vez. Expliquei que eu não sabia, talvez demorasse um pouquinho. “Ah, titia. Não quero que demore”.

Meu coração ficou pequeno frente à sinceridade daquela saudade que começava a crescer dentro dele. Crianças desmontam nossas armaduras internas com sua meiguice honesta. Que bom seria se os adultos soubessem expressar seus sentimentos como meu sobrinho sabe. Às vezes, queremos dizer que estamos com saudade, mas nossa garganta fica seca de palavras.

Sentada à janela do avião, enquanto esperava a decolagem, imaginei que cada uma das pessoas ali carregava uma saudade na bagagem de mão. Na minha bolsa, tinha o desenho feito por um menino de 4 anos.

Sabemos que a tecnologia tornou possível amenizar a ausência. Vemos as crianças crescerem através dos vídeos e fotografias e aproximamos as distâncias com áudios e mensagens de texto. Porém, não existe nada tecnológico que substitua as brincadeiras na piscina, o bolo de chocolate feito a quatro mãos, o tilintar das taças que brindam juntas e o carinho delicado sentido na pele.

Voltei para casa renovada de amor e irmandade. Ao dar o beijo de boa-noite no meu sobrinho, percebi mais uma vez como não é fácil dizer adeus; mas, ainda assim, é muito melhor do que não ter um motivo para dizê-lo. E, mesmo que demore o reencontro, a gente vai dando um jeito na saudade…