Se não fosse a esperança, já estaríamos todos mortos

Se não fosse a esperança, já estaríamos todos mortos

Tenho andado pessimista. Pode parecer estranho, ainda mais vindo de mim, que estou sempre escrevendo sobre ter fé na vida. Não sei se acredito mesmo que ainda há alguma luz em meio a tanta solidão ou se apenas uso as palavras para tornar real o que não existe.

Para acalmar a dor que não tem nome, recorro aos poetas. Eles têm o dom de fazer nascer sentimentos improváveis a partir de uma pedra encontrada no meio do caminho. Eles carregam água na peneira; enchem de cor as horas cotidianas; vão-se embora pra Pasárgada; encontram alegria no fundo sem fundo. Poetas não são nada — e à parte isso, carregam em si todos os sonhos do mundo.

Confesso. Nem sempre entendo parte de alguns poemas. Mesmo assim, a leitura dos seus versos me consome, é como se eu fosse afastada do aqui e agora e levada para além de mim — aquilo que não compreendo, mas que é a essência do que sou. Fragilidade e força. Cegueira e lucidez. Ambivalência e exatidão. Acho que sou tudo e coisa nenhuma.

Não sei se ainda há salvação para o ser humano, se daqui a algumas décadas estaremos todos mortos por nossas guerras e pela destruição do planeta. Não sei se amanhã levantarei da cama e até quando as pessoas de quem gosto estarão comigo. Não sei se escrevo sobre o amor ou sobre o fim.

Em tempos de pessimismo, podemos passar pela vida entregues às cores sem brilhos e às manhãs cinzentas. Podemos erguer muros ao redor de nós mesmos para fugir da verdade. Ou podemos nos afogar em poesia, como eu mergulhei em Drummond, Manoel de Barros, Mario Quintana, Manuel Bandeira, Ferreira Gullar e Fernando Pessoa para escrever este texto: a imortalidade das palavras desceu por minha garganta sedenta de presença.

A poesia é como um livro abandonado. É a esperança que sobrevive à dura realidade, tal qual a vela que tremula nas madrugadas de desalento. Ler um poema suaviza a inquietude, nem que seja somente por alguns instantes.