Você que faz do mundo um lugar pior para se viver

Você que faz do mundo um lugar pior para se viver

Você não é especial. Você é aquele cidadão comum, um raso que reza, que vai à feira aos domingos e que contribui com a sua parcela para fazer do mundo um lugar pior para se viver. Às vezes, eu queria partir, ou lhe partir em pedacinhos, parceladamente, se é que me entende. Modo de dizer. Força de expressão. Não leve minha fúria ao pé da letra. Você que posa para fotos com a mulher e os filhos, tendo a Torrei Eiffel como pano de fundo, que se amarra em fotografia, mas que, no fundo, vai fundo no vício velado de arquivar e compartilhar pornografia infantil com pedófilos de todos os cantos do planeta. Vilania globalizada. Você que ninguém desconfia. Você, um misógino que apenas reforça a minha misantropia. Você que participa de linchamentos, que se amarra em vale-tudo, que vira o bicho quando se trata de surrar veados, e que mutila animais. Você que incentiva as lágrimas. Quando eu lhe encontro, quando eu cruzo por você pelo caminho, você se torna a pedra de que tanto falou o poeta Drummond, então, o meu coração se petrifica, a minha saliva estia, os meus intestinos roncam e uma chusma de fenômenos vegetativos desagradáveis advém, decorrentes de um frenético ataque de nervos. Este texto foi escrito para você, um calhorda que nunca lê. Que o façam, então, os olhinhos inocentes que agora se estarrecem com tamanha histeria. Os mansos também odeiam. Sua autossuficiência não é o suficiente para me fazer amá-lo como a um irmão. Aliás, tenho uma irmã que me odeia já faz tempo e não há mais nada que eu possa fazer a respeito. C’est la vie. Não se pode desagradar a todos. Nem Cristo conseguiu. Nisso estamos empatados, eu e ele. Nem pense em me crucificar. Tenho alergia a pregos e a melodramas. Sou rude com as palavras, mas, detesto violência. Mesmo assim não paro de escrever. Entenda, a paisagem fica mais poluída sempre que você pinta na área. Você, um criador de difamações, um ser humano provido ou desprovido de útero, não importa (quem se importa?), que gera, que aborta injúrias por onde quer que vá. Vá se foder. Você e o seu abominável estilo de vida. Eu preferiria mil vezes definhar a levar uma existência tão deplorável quanto a sua. Você que me embrutece, que me faz surtar sobre o teclado, que me transforma num sujeito antissocial além do razoável. Paradoxal. Isso é paradoxal. Suponho que não saiba o significado da palavra em questão. Devia ter lido mais. Mas, você não lê. Bibliotecas fazem-no empolar. Devia se apaixonar por um livro, mesmo que fosse o “Mein Kampf”. Nazista é a mãe. Como eu já disse, não gosto de drama. Eu prefiro a comédia. Contudo, você faz do mundo um lugar horroroso ao empunhar um fuzil e abrir fogo, de cima para baixo, do alto de um morro, cuspindo munição contra a polícia e os gatos pingados que vão comprar manteiga na mercearia. Você que fere. Você que mata. Você que deixa as balas perdidinhas-da-silva. Você que cresceu sem saber o que é afeto. Não dá pra voltar no tempo. Só lamento. Mães choronas reclamam na TV que bandidos como você não têm coração. E eu que pensava que mães as nunca se enganavam. Celerados possuem, sim, uma engenhoca musculosa dentro do peito que esguicha sangue para tudo quanto é lado. É isso que os mantêm em pé, em prol do inferno de um bangue-bangue cotidiano. Não sei por que as pessoas de má índole almejam tanto o poder. De minha parte, sinto que poderia levar uma vida bem mais simples e leve, mas, não levo. Não sei como explicar. Devo ter lava escondida nas veias. Na melhor das hipóteses, fístulas de fel. Só pode. Sinto que estou prestes a desfalecer, a entrar em erupção por causa de gente como você, que abraça, mas, que apunhala pelas costas, que faz o mundo parecer uma bosta. Você que aplica golpes, que clona cartões de crédito, que frauda concursos públicos, que molha as mãozinhas, que faz esquemas, que tem contas secretas na puta-que-o-pariu, que conhece alguém no Detran pra dar um jeitinho, que espanca mulheres, que explode mesquitas, que pilota caminhões sobre as turbas, que estupra refugiadas, que comete latrocínios, que sodomiza os próprios filhos, que tortura, que se perfila nos pelotões de fuzilamento, que é viciado em maldade. Você que atrofia o amor que peleja em mim. Foi justamente para você que eu escrevi este texto. Acontece que você não lê. Então, esse amargo não sai da boca.