Autor: André J. Gomes

 Lusco-Fusco e a arte luminosa de Assucena Natalia Mitie / Divulgação

 Lusco-Fusco e a arte luminosa de Assucena

Naquele instante em que já não é mais dia nem é noite ainda, como na primeira horinha da manhã em que o sol inda não deu as caras mas um raio apressado entrega o dia que chega, nesse momento há um intervalo luminoso, uma luz que banha o mundo e a ela alguém deu o nome lusco-fusco. No anoitecer e no amanhecer, é como a mudança se anuncia irreprimível, absoluta e peremptória. No lusco-fusco.

Lívia Mattos e seu ofício seguro de devolver o ar que nos falta

Lívia Mattos e seu ofício seguro de devolver o ar que nos falta

Eu tenho o hábito, desaconselhado pelos otorrinolaringologistas, de ouvir música em fones de ouvido minúsculos, enfiados nos buracos das orelhas, em volumes inacreditáveis, como se eu pudesse silenciar o mundo lá fora. Como se possível fosse reduzir o tempo e o espaço ao movimento infinito de uma canção depois da outra. Ouço música enquanto lavo a louça às quatro horas da manhã. Quando caminho e quando tomo banho. Escuto música para dormir e para acordar. Enquanto escrevo e enquanto leio, ouço música também. Hoje, lendo as notícias de uma guerra estúpida, o ar me faltou no peito e uma playlist aleatória me deu um presente: do nada, ouvi uma moça tocando sanfona. E o mistério da música deu de novo o ar de sua graça.

Uma voz, um vibrafone e a arte de fazer música que salva o dia da gente

Uma voz, um vibrafone e a arte de fazer música que salva o dia da gente

Pura, simples e bela celebração da vida, da amizade e da beleza, o disco de Bia e Ricardo relê nove clássicos da música popular brasileira em arranjos sensíveis e inspirados para voz e vibrafone, acompanhados de um violão aqui, um contrabaixo acústico ali, um quarteto de cordas acolá. São canções que um dia tocaram no rádio, quando ainda havia rádios, e que consolaram a dor e enfeitaram a alegria de um mundo de gente.

Alaíde Costa e o milagre da multiplicação de belezas

Alaíde Costa e o milagre da multiplicação de belezas

Aos oitenta e sete anos e quase sete décadas de música, Alaíde Costa é uma das cantoras mais importantes que inda caminham por este mundo e esse é outro milagre. Sem nunca ter enriquecido, lotado estádios nem ter visto suas músicas tocarem na televisão mais de meia dúzia de vezes, ela tem uma multidão de admiradores. Porque cantou sem fazer concessões a quem quis ouvi-la, exerceu seu ofício sem medo e distribuiu belezas que duram. Sua voz impecável inda hoje é um sinal da riqueza do tempo. Alaíde é um tesouro, uma fortuna, uma raridade. Um instrumento bonito de Deus que persiste, esparramando graça entre tanto infortúnio.

Anette Camargo e o ofício de fazer música como quem vai salvar o mundo

Anette Camargo e o ofício de fazer música como quem vai salvar o mundo

Escrevo a poucos dias do lançamento do primeiro álbum de Anette Camargo, “Cirandá”, programado para a primeira semana de outubro. Sei que o correto seria aguardar o disco sair, escutar todas as faixas, analisar as composições, refletir sobre os arranjos. Mas o que eu tenho a dizer sobre Anette não suporta esperas nem carece de confirmações. Meu amor pela arte dessa pianista, cantora, compositora e arranjadora brasileira me permite arriscar sem medo de estar enganado: não ouvi o disco e já gostei!