Deus e os ovos no porta-malas

Deus e os ovos no porta-malas

Caiu num deslumbre endiabrado. Acabou o tempo para a escola e a família. Passava o dia na internet, alimentando comunidades, atualizando o blog, combinando com a galera sobre a balada que empreenderiam à noite. Duas coisas a tiravam do computador: baladas e compras. Adquiria os modelitos de grife, cada vez mais arrasantes, tanto pelo preço, quanto pela extravagância. Eram, como se diz, roupas de andar pelado. 

Ganhador de dois Oscars, obra-prima com Leonardo DiCaprio e Brad Pitt acaba de estrear na Netflix Andrew Cooper / Sony Pictures

Ganhador de dois Oscars, obra-prima com Leonardo DiCaprio e Brad Pitt acaba de estrear na Netflix

Durante um fim de semana de fevereiro de 1969, a estrela de um programa de faroeste numa trajetória descendente na carreira tenta se segurar na cada vez mais instável indústria cinematográfica americana, sujeita a uma cornucópia de transformações. Com ele está o dublê que o representa nas cenas perigosas, e os dois embarcam juntos numa jornada em que Quentin Tarantino revela boa parte das histórias de bastidores do cinema, inclusive as que não aconteceram.

Seríamos leões para os safáris de Deus?

Seríamos leões para os safáris de Deus?

Há pessoas que têm a comodidade de tomar pé de fatos relevantes, de adquirir certas sabedorias, por meio de revelações. Há revelações para todos os tipos e gostos. Há revelações suaves e melífluas e revelações toscas e rudes. Eu inclusive sou daqueles acometidos por revelações eventuais. Penso que as minhas são do gênero rude pós-apocalíptico. Em estado de sonolência tumultuada foi-me dado conhecer, por exemplo, o lado mais sombrio e desamoroso de Deus em relação às pobres almas, quando desprovidas de seus corpos e saem por aí em busca do amparo divino.

Inteligente, adorável, cínico e comovente, o filme da Netflix que vai partir seu coração em 1000 pedacinhos Netflix / Vertical Entertainment

Inteligente, adorável, cínico e comovente, o filme da Netflix que vai partir seu coração em 1000 pedacinhos

A premissa de Chris Kelly em “Other People” pode até ser batida, entretanto, a maneira como o diretor elabora seu argumento, valendo-se das atuações potentes de dois protagonistas, dá ao filme a dimensão de grande história que o caracteriza, do começo, ainda pincelado por alguma esperança de que tudo acabe bem, ao desfecho, inexoravelmente amargo, mas que não abre mão da mensagem positiva.