Leonora e Jacob, o casal que protagoniza “Kadaver” (2020), do norueguês Jerand Herdal, consideram-se abençoados por terem recebido um convite tão inusitado quanto revelador: comparecer à sessão de um espetáculo em que é levada à cena uma peça na qual a plateia interage com o elenco, tendo a chance de desfrutar de um lauto banquete. Com argumento tão aparentemente simplório, o diretor elabora um texto preciso sobre uma eventual catástrofe de dimensões planetárias.

Em “A Soma de Todos os Medos”, a trama é um ato terrorista nuclear que pode desencadear a guerra total entre Rússia e EUA. A presença magistral de Morgan Freeman como alto executivo da CIA e a competência de Ben Affleck como o historiador outsider que move toda a ação para impedir o desastre podem demonstrar que o filme se trata apenas de diplomacia, tecnologia e espionagem. Pode ser e o espectador talvez se satisfaça com essa percepção.

São vários os enfoques possíveis para se categorizar “Garota do Século 20” (2022), mas o filme da sul-coreana Woo-ri Bang pode ser encarado, antes de mais nada, como uma fábula pós-moderna sobre as relações humanas, seus encontros e suas tantas incongruências. A paixão de uma adolescente por um garoto da mesma idade, conduzida não pelos tradicionais olhos nos olhos — faiscantes e dos quais até escorre uma furtiva lágrima de quando em quando — ou os bilhetes disparados pela imensidão de uma sala de aula banal.

O quanto de seus traumas as mulheres podem guardar e seguir em frente, como se nada tivesse acontecido? Engolir as dores, angústias, agressões e violências faz parte da vida de qualquer ser de sexo feminino. Isso foi normalizado ao longo dos séculos. Quando as dores não são caladas, essa mulher é chamada de surtada, ciumenta, invejosa ou qualquer outra coisa que a coloque em posição de descrédito. Esse tema é abordado no novo filme da Netflix “Uma Garota de Muita Sorte”.